Rediscutindo o Centro Histórico

As pesquisas de opinião, quando técnica e criteriosamente elaboradas,  têm sido valiosos instrumentos para ouvir, para conhecer a opinião da população sobre questões sociais que lhe dizem respeito, e têm sido utilizadas por governantes para definição de políticas públicas mais adequadas ao encaminhamento dessas questões, com maiores probabilidades de êxito.

Como as pessoas são mutáveis, podendo rever opiniões ao longo do tempo, essas pesquisas devem ser realizadas periodicamente, de modo a reorientar ações e rever o planejamento.
Penso isso ao considerar o desabamento de várias fachadas e coberturas de prédios, no Centro Histórico, este ano, desfecho anunciado pela Defesa Civil em seus alertas periódicos. Simples ação do tempo? Empobrecimento de seus proprietários? Ação de omissão intencional? Quais interesses?
Não nos preocupamos em saber se a população de São Luís gostaria que  parte de nosso Centro Histórico fosse inscrito como Patrimônio Cultural da Humanidade, nem se ela esteve ou está satisfeita com essa inclusão. Além disso, que deveres adicionais ela reconhece ter incorporado, com a preservação desse conjunto, a partir de sua inscrição pela Unesco.

Enfim, a alma, o sentimento mais recôndito de nossa gente, ainda não foi recolhido, pesquisado, para o conhecimento oficial. Ninguém sabe o que pensa a população sobre esse fato, ao longo desses quase onze anos, nem como nossa comunidade está motivada, o que sugere, para a continuidade dos trabalhos de preservação que deve ser uma atividade permanente.

Está vigorando o pressuposto de que sendo bom para a cidade é bom para os moradores. Não me contraponho a essa idéia. Ao contrário, até a endosso. O difícil, no entanto, é determinar o que é bom para a cidade sem escutar a opinião de seus moradores. 

O Estatuto da Cidade introduziu a gestão participativa, através das audiências públicas, como instrumentos de participação popular na definição do planejamento, e das políticas públicas municipais. As pesquisas de opinião são necessárias à administração pública moderna, como instrumento de avaliação, de correção de rumos, de redefinição de diretrizes.

Portanto, é de fundamental importância que a população seja ouvida, informada, chamada a participar desse momento da vida e da história de nossa cidade que, este ano, estará completando 396 anos de sua fundação. Deve ser chamada a participar não como platéia de festivos espetáculos culturais, quase sempre importantes. Mas sim, como coadjuvante de um trabalho construtivo, que deve ser de todos nós. 

Na ausência de pesquisas de opinião pública, sistemáticas, de informações fidedignas que possam respaldar um trabalho consistente de planejamento, estou sugerindo a realização de um seminário que venha a representar uma visão crítica, do atual estágio de preservação de nosso Centro Histórico.  
Nesse seminário seriam apresentadas sugestões, analisadas as experiências do programa de revitalização que já está em curso. Além disso, haveria espaços para novas propostas, para o realinhamento de posturas, eliminando entraves burocráticos e comprometendo os três níveis de poder, com a implementação de sugestões pactuadas nesse evento.

Sugestões, certamente, eclodirão nas discussões do seminário. Será bom que assim seja. Eu próprio apresentaria algumas sugestões, para tornar a cidade esteticamente mais bela, humanisticamente mais confortável e correta. Duas delas, vou apresentá-las logo agora, até porque delas já me ocupei, em outras ocasiões, neste jornal. Mas, tenho muito coisas a sugerir.

A primeira: realização de estudos, inclusive a pesquisa junto à população, para conhecer a viabilidade e a aceitação, para implantarmos novos bondes elétricos, só no Centro Histórico, com o itinerário das antigas linhas que o serviam. A segunda: a retirada, em curto prazo, da camada asfáltica que cobre todas as ruas do Centro Histórico.

Essa proposta também deverá ser submetida à consulta popular. Ela interessa à cidade, do ponto de vista do seu clima, de sua autenticidade urbanística, da devolução de seus espaços ao cidadão, e a tornaria mais harmônica, aos nossos olhos e sentimentos, e aos olhos e sentimentos dos nossos visitantes.

Além disso, contribuiria para a redução da velocidade e do volume do trânsito, no local, além de ser extremamente necessário a um conjunto urbano que é patrimônio cultural da humanidade. Não seria onerosa essa retirada, pela má qualidade de nosso asfalto, que amolece e solta com calor, e porque, sob ele, estão os paralelepípedos como pavimento, ao longo de todas essas ruas.

A cidade precisa de uma população integrada com seus espaços urbanos, sim. Mas também precisa, de forma especial, de cidadãos comprometidos com sua história, sua memória, sua identidade cultural, sentindo-a, tratando-a, projetando-a nos sentimentos das crianças, dos adolescentes, para que ela possa viver este milênio e os próximos, com seus referenciais preservados.

A cidade precisa de homens públicos comprometidos com suas tradições mais autênticas, com seus valores mais permanentes e construtivos. Assim devem ser os que a dirigem e os que a dirigirão, ao longo do tempo. Amar a cidade é preservar sua história e projetar seu futuro. É preciso amar a cidade.