A ameaça que vem das ruas

O arrastão promovido por gangues, na última terça-feira, no centro da cidade, mostrou a face mais cruel da violência que está amedrontando nossas ruas, vitimando pessoas, nos tornando reféns de nossas conquistas pessoais e profissionais, nos aprisionando em nossas próprias casas, nos amedrontando e nos tolhendo um pouco do encanto, do desafio e do milagre de viver.

As gangues, originadas nas favelas do Rio de Janeiro, já se multiplicaram pelo país, associadas a bairros periféricos, e ao elevado índices de violência juvenil. Elas são constituídas, basicamente, por jovens, e têm ocupado as páginas policiais por confrontos armados que protagonizam com outras gangues. São jovens lutando contra outros jovens, com extrema violência, usando armas brancas e armas de fogo, para reafirmarem domínio, poder, para serem os donos do pedaço ou outras razões menos positivas. Não raro, vários estão morrendo nesses confrontos.

Os arrastões consistem em agressões, em furtos, em roubos a pessoas físicas,   em atos de vandalismo contra o comércio, saqueando, agredindo a todos, com extrema rapidez e violência. Uma das estratégias das gangues é a ação organizada, de curta duração, de elevado grau de violência, contra quem estiver no local do arrastão, utilizando o fator surpresa.

O caso de São Luís não foi diferente. Um verdadeiro pânico se instalou no centro, a partir do Liceu Maranhense, até o Canto da Viração, como uma verdadeira onda de membros das gangues que ali agiram, impondo pavor a cidadãos, pelo inusitado de tal comportamento, naquele local, em plena luz do dia. Não me recordo de nenhum outro arrastão, em nossa cidade, com tal proporção, em local tão visível e, aparentemente, policiado.

A face mais cruel de toda essa violência é a presença ostensiva e predominante de jovens, em crimes fora e dentro de seu próprio lar. O jovem como autor ou como vítima. A mídia eletrônica tem difundido, no noticiário nacional, um drama que está atingindo a família, em nosso país. Esse drama tem como atores, de um lado, adolescentes usuários de drogas e, do outro lado, familiares desses mesmos adolescentes. O drama tem tido como desfecho a morte de familiares, quase sempre pais ou mães, mas, também, avós, irmãos, e todos os que possam representar obstáculos à sanha incontrolável de obtenção de dinheiro para a compra de drogas, por parte dos viciados agressores.

O caso do jovem que assassinou a mãe, por estrangulamento, no auge de uma discussão em que pretendia mais dinheiro para compra de drogas.

Na matéria em que noticiou o fato, uma rede de televisão fez divulgar, também, matérias alusivas a crimes pretéritos, recentes, com o mesmo drama familiar e as mesmas motivações de viciados. O jovem que assassinou a avó e uma servente da casa, que foi preso dopado, após os crimes e o uso das drogas que tanto buscara. Outro jovem assassinou o pai, por motivações semelhantes: desejo incontrolável de mais dinheiro para a compra de drogas, para alimentar um vício que pede para ser satisfeito a cada momento em que passam os efeitos da última ingestão.

Os criminosos, nesses casos, são criminosos ocasionais, que agem pelo impulso, por estarem tomados pela necessidade de viciados, que submete o corpo e a mente às ações mais cruéis e condenáveis como o assassinato de genitores ou outros familiares, pelo fato de representarem obstáculo e, ao mesmo tempo, meio para a obtenção das drogas que tanto precisam para alimentar seus vícios e suas próprias vidas.

Começam por gastar além do que podem, para alimentar um vício que acontece como um processo. Primeiro, provam gratuitamente. Depois, começam a comprar, em pequenas quantidades, drogas de custo mais barato. Depois, ainda, são induzidos a comprarem drogas mais pesadas e caras. E quando estão nos limites de suas dependências, de suas possibilidades financeiras, roubam dinheiro em casa; vendem aparelhos domésticos e bens móveis de seus familiares; pressionam os pais, cada vez mais, para que lhes dêm dinheiro e, quando não conseguem mais, até mesmo por os pais não disporem de mais, acabam por cometer os homicídios, num gesto inconseqüente e desesperado, ante a negativa dos pais.

O arrependimento, a depressão vêm depois, quando, presos e em crise forçada de abstinência, conseguem compreender a extensão e o caráter criminoso de seus atos. Assassinos dos próprios pais a quem, quase sempre, eram ligados por fortes laços afetivos. Pais com quem viviam, e que os alimentavam e vestiam, cumprindo seus deveres paternos.

A família está contra a parede, sob os olhos do Estado. Contra a parede pela dificuldade de criar e educar, dentro de padrões éticos e morais que sejam socialmente comprometidos com o passado, o presente e o futuro, num mundo que troca de valores como troca de moda: a cada estação. Contra a parede porque os pais têm sido as maiores e mais graves vítimas desse processo dramático, no cumprimento de seus deveres legais, afetivos, biológicos. Contra a parede porque, na medida em que cresce o número de usuários de drogas, entre adolescentes, e esses adolescentes, quase sempre, vivem com seus pais, aumenta potencialmente o número de pais que poderão ser vitimados por esse processo cruel.

Contra a parede acabará ficando nosso país e alguns países do Mundo, se não forem adotadas medidas eficazes de combate ao narcotráfico, aos traficantes. Por outro lado, precisamos adotar medidas de proteção à família, instrumentando-a para o melhor cumprimento de suas responsabilidades, com o aval direto e determinado do Estado. Amar a cidade é proteger a família. É preciso amar a cidade.

Publicado na Coluna “Hoje é dia de…”, no jornal O Estado do Maranhão,
em 15 de junho de 2008

One thought on “A ameaça que vem das ruas

  • 30 junho, 2008 em 18:31
    Permalink

    Esse negócio de ARRASTÃO, NÃO EXISTE, O POVO É QUE BOTA LENHA DA FOGUEIRA
    I FICA FALANDO COISA ABISURDAS, E NA MAIORIA DAS VEZES, É A PENAS UM FURTO
    EM QUE O LADRÃO SAI EM DISPARADA, E POVO LOGO GRITA “ARRASTÃO, ARRASTÃO”
    AI A MIRANTE BOTA NA CAPA, “ARRASTÃO EM SÃO LUÍS”
    NÃO EXISTE

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