O drama da violência urbana e seus cenários sombrios

violencia urbanaA televisão não cansa de mostrar, em detalhes possíveis, os fragrantes dos mais diversos crimes que ocorrem, no dia a dia de nossa vida urbana, em todos os recantos de nosso país. Indignados, vamos assistindo a toda essa barbárie moderna, banalizando a vida, fugindo amedrontados dos riscos que nos ameaçam, contabilizando as vítimas, e questionando as previsões positivas de um futuro mais luminoso para nossos descendentes, para as novas gerações.

A rigor, vamos refazendo sonhos, recolhendo esperanças e construindo fortalezas psicológicas e físicas, para que possamos enfrentar o desestímulo que os cenários de nosso cotidiano vão sugerindo a nossas utopias temporais.

Cidadãos, pais de família, vamos assistindo à segregação de nossos projetos familiares, especialmente os que projetam o futuro de nossos filhos, premidos pelo medo, pela insegurança, pela onda de violência que se agiganta, em ocorrência e barbárie, e nos tolda a vida.

Os crimes se multiplicam, especializados, nas grandes cidades, e vão migrando para as cidades de porte médio e, já agora, para as pequenas cidades, onde o sistema de segurança pública exibe maior precariedade. O elenco de crimes vai desfilando sua nomenclatura, indo do crime passional ao crime político, com assassinos de encomenda; seqüestros relâmpagos, assaltos a bancos e residências; roubos, latrocínios, incestos, estupros, homicídios. Não falta criatividade, nem motivos, muitas vezes banais, para justificar tanta violência, ceifando preciosas vidas humanas, até por balas perdidas. Tem crime para toda indignação.

Para agravar essas constatações, a cada dia, cresce o número de jovens, menores de 18 anos, envolvidos nesses crimes, como autores ou co-autores de crimes hediondos, com todos os requintes da maior crueldade. Esse indicador (aumento da criminalidade juvenil) é o suficiente para acender todas as luzes vermelhas de alerta, em nossa sociedade, exigindo políticas públicas de profundo alcance social, para a reversão desse problema, começando por fortalecer a família.

Não faz muito tempo, o noticiário nacional foi todo dedicado à divulgação do crime bárbaro que comoveu o país e que motivou o congresso nacional a propor um novo plebiscito para decidirmos sobre a proibição ou não de venda armas de fogo, em nosso país. O assassinato de 13 adolescentes, dentro de salas de aulas, a sangue frio, em uma escola de Realengo, por um ex-aluno, com perfil de personalidade esquizofrênica, retrata o quadro dantesco da violência que acomete a sociedade contemporânea. Jovem, de 23 anos, o criminoso perpetrou a chacina, que poderia ter sido maior, com requintes dos mais audazes e cruéis terroristas.
 
São Luís não foge a essa dura realidade nacional. Está crescendo, de forma preocupante, o índice de violência urbana, em nossa cidade. Basta olhar o noticiário que a imprensa, diariamente, estampa nas páginas policiais, nas manchetes e nas fotografias que publica nos relatando os mais cruéis e frios homicídios, assaltos, roubos, estupros, sob o império de quadrilhas organizadas, como as gangues ou de criminosos ocasionais. O álcool e outras drogas estão, quase sempre, presentes em todo esse elenco de comportamentos criminosos, que tantas vidas têm ceifado, ou tanto trauma tem causado a suas vítimas.

Está crescendo o número de excluídos sociais e essa exclusão, com absoluta certeza, está alimentando o crescimento vertiginoso da violência que grassa em torno de nós, e ameaça a paisagem de nosso amanhã. Quem são esses excluídos? São aqueles para quem a sociedade atual fechou suas portas, negou o exercício de seus direitos de cidadãos, e não tem qualquer perspectiva de futuro melhor para lhes oferecer.
 
Esse contingente vem crescendo, atingindo a classe média empobrecida, tolhendo a dignidade humana, numa sociedade que privilegia o capital, a tecnologia e o mercado de consumo. 
No meio disso impera o Estado, com suas propostas chamadas neocapitalistas e o mundo de economia globalizada, que nos faz prisioneiros de interesses econômicos dos países ricos, nossos credores, interessados sem ampliar o mercado de consumo para seus produtos, e em afirmar seus domínios sob os destinos do mundo.

Tudo isso leva a uma situação de agravamento de nossas tensões sociais, do aumento da disparidade entre pobres e ricos, da excessiva concentração de riquezas nas mãos de poucos. Esse é, em síntese, o panorama que nos envolve, e que está exigindo sacrifício de todos nós, que pagamos  impostos, e temos deveres a cumprir com a criação de nossos filhos.   
     
Como não vejo nenhuma ação pública consistente, que possa estancar em curto prazo, esse processo conjuntural da exclusão, é sensato supor que essa situação ainda perdurará por vários anos, com gravíssimas conseqüências para o nosso país, em longo prazo.  
 
Como homens de boa fé, em nome de alguns postulados morais e éticos, precisamos adotar medidas protetoras da sociedade, para que ainda possamos cumprir a trajetória de nossas vidas, com sonhos, com esperanças, com algo que nos conforte como seres humanos, nascidos para a liberdade, para o amor e para a busca da plenitude.

A segurança deve ser uma obstinação do poder público porque ela envolve a vida, os projetos futuros, a ordem social, sem cujo estabelecimento a própria governabilidade se esvai e deixa de ser exercida, para imperar a desordem, a impunidade, a lei dos mais fortes, o império do crime. Amar a cidade é adotar medidas preventivas para proteção de seus cidadãos. 

ivansarney@uol.com.br  

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