Os brinquedos e a violência estimulada

brinquedos violentosDesde o ano de noventa e nove, instalamos na Câmara Municipal uma campanha pela paz. Essa campanha, com o nome de Adeus às Armas, reapresenta um gesto muito explícito de valorização da vida humana, contrapondo-se à violência que está grassando entre nós, ceifando dezenas de vidas, todos os dias.

Sabemos que a violência é um dos instintos da espécie humana, convivendo conosco, de forma latente, por toda a nossa vida. A paz é um ideal, um sonho a ser alcançado, sendo produto de reflexão, de determinação de conquistá-la, como uma condição para nossa própria felicidade.

A violência, por ser instintiva no ser humano, independe da condição social e econômica dos povos. Ela permanece em estado de latência e pode ser exercitada, a qualquer momento, despertada por uma situação que a estimule. Os fatores sociais são condicionantes de comportamentos violentos. Eles não são, no entanto, determinantes da violência na espécie humana.

A violência é inata no homem e está ligada, biológica e ontologicamente, à sua história social, passando por todos os estágios de sua evolução. Não podemos esquecer, no entanto, que o homem é o reflexo de sua criação, daquilo que lhe foi ensinado na mais tenra idade, na família e na escola, até por volta dos 10 anos, quando os traços fundamentais de nosso caráter e de nossa personalidade se formam.

Valores como amor, solidariedade, fraternidade, respeito aos mais velhos, às leis e regras de convívio em grupo; os princípios éticos, o sentido da liberdade responsável, os limites do possível e do não possível; todos esses valores, que são éticos também e definitivos, só podem ser aprendidos nessa fase de formação do futuro adulto.

Portanto, é necessário que nos empenhemos para dar uma formação mais adequada aos nossos filhos, a partir do ambiente de nossa casa, de nossa família. A cada dia, o mundo fica mais amplo para o cidadão de qualquer país, motivado pelos avanços de uma sociedade cada vez mais globalizada em seus valores, sua comunicação, seus códigos de conduta, e nos torna responsáveis pela sustentabilidade do planeta e pela sobrevivência da espécie humana.

A cada dia, no entanto, devemos nos sentir mais responsáveis pelos destinos da espécie humana, pela segurança de cada cidadão, do conjunto da sociedade, buscando ressaltar valores que engrandeçam a nossa espécie, evitando os que contribuam para sua degradação social. Pretendemos formar gerações mais pacíficas, que se identifiquem com os valores mais elevados do homem e possam contribuir para uma vida mais construtiva, respaldados no amor, na solidariedade, na paz.

Para isso, a educação que nós pais devemos dar a nossos filhos tem que ser compatível com esses valores positivos, com os sentimentos e os anseios de um mundo melhor, evitando estimular a violência sob quaisquer que sejam as suas formas. Devemos, portanto, estar atentos para não dar exemplos de violência em nossa própria casa, nos métodos de disciplina familiar que estabelecemos para a educação de nossos filhos e na relação que temos com o nosso cônjuge.

Do mesmo modo, os brinquedos com que presenteamos nossos filhos não devem representar um estímulo à violência: armas de brinquedos, fitas de vídeo games que são combates, jogos de destruição, do mesmo modo não devem constituir-se em presentes que os pais devemos dar aos nossos filhos ou aos filhos dos outros. A maioria dos jogos eletrônicos que se encontram à venda são verdadeiros treinamentos para a violência, para matar.

Esse treinamento é mais cruel porque os jogos são interativos, fazendo com que a criança que os está manipulando aponte e dispare a arma, matando, destruindo tudo o que aparece como alvo móvel. Nesses jogos mais recentes, o vencedor é aquele que mais idosos mata nas ruas. É claro que as crianças que crescem treinadas assim vão banalizar a vida, a morte, e matarão sem piedade, sem se sentirem culpadas de nada, como se estivessem jogando no vídeo game.

Ainda é viva, em nossa memória, a lembrança dos adolescentes que tocaram fogo no índio Pataxó em Brasília, que dormia na rodoviária. Esse episódio ilustra bem, o que estamos querendo transmitir. Eles afirmaram que mataram o índio apenas para se divertir. Queriam apenas se divertir! Por isso, cobriram de álcool e fogo, o corpo do desvalido índio, para o vê-lo arder em chamas e morrer.

Essa nossa reflexão, essa nossa resistência aos apelos das crianças, para compramos certos jogos eletrônicos, e para lhes darmos armas de brinquedos, deve ser levada, definitivamente, a sério por nós. Os jogos eletrônicos estão treinando as crianças para matarem. Vamos cruzar os braços para isso?

Estou convicto que não devemos nos omitir. Não comprando esses jogos, não dando armas de brinquedos, não estimulando as crianças a praticarem a violência, sob qualquer forma, estaremos contribuindo para um mundo mais pacífico, dentro dos anseios de paz universal que deve ser a grande utopia do novo milênio. Amar a cidade é praticar a paz e proteger as crianças. É preciso amar a cidade.

ivansarney@uol.com.br

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