Ostentando livros e orgulho
A cidade de São Luís ainda está sob o impacto do mais especial momento de sua trajetória cultural, realizado nos últimos decênios. O clima desse momento imantou a todos os que tivemos oportunidade de nos inebriar em seus encantos, na magia de seus universos infinitos, na vertigem, no turbilhão de todos os devaneios que ali estiveram latentes, prontos para serem penetrados, para nos levar ao encontro de mundos indecifráveis, em suas plenitudes.
Refiro-me à 1a. Feira do Livro de São Luís que, do dia 18 a 27 deste outubro primaveril, orgulhou nossa cidade, resgatando e reacendendo valores que estavam esmaecidos, postergados no calendário cultural, no foco da mídia, na memória das pessoas, no planejamento das políticas públicas e no decurso do tempo. Há quanto tempo!
A 1a. Feira do Livro de São Luís- com a participação de 150 editoras e exposição comercial de 70 mil títulos- escolheu como patrono um dos mais férteis e brilhantes romancistas brasileiros, o maranhense Josué Montello, recentemente falecido. Como tema, determinou: São Luís abre as janelas! Como conceito, a constatação: Mirantes de São Luís: a leitura do mundo! Na prática, tema e conceito formaram a mais pura e envolvente realidade.
Além disso, trouxe para nosso convívio expressivos nomes de nossa literatura como Thiago de Mello, Nélida Piñon, Ignácio de Loyola Brandão, Ariano Suassuna, Affonso Romano de SantAnna, Ana Miranda, Moacir Sclyar. Vieram como palestrantes e encantaram a todos os que puderam ouvir-lhes, absorvendo suas experiências, seus conselhos, registrando suas emoções.
Foi mais ampla, ainda, privilegiou espaço para os escritores maranhenses destinando-lhes um local específico para lançamentos e relançamentos de livros, como a Casa do Escritor Maranhense. Café Literário foi outro espaço onde os escritores maranhenses puderam se mostrar ao público, conversando sobre seu ofício, suas obras, sua história, realimentando e cativando novos leitores.
Uma feira de livros, no modelo em que a nossa Feira foi montada, tem um imenso poder semeador. Representa um momento especial de incentivo ao público leitor -seja ele adulto, jovem ou infantil- para que desbrave, cada vez mais, os horizontes do livro. Os mundos que ali estão retratados e que são perceptíveis, por cada um de nós, com a escala de conhecimentos e valores que estamos construindo, ao longo de nossas vidas, a partir de nossas famílias.
Esses mundos parecem inatingíveis horizontes, na amplidão das abordagens que abrigam, na complexidade do real e do onírico que refletem. Mundos que parecem fugir de nós, a cada esforço que desprendemos para alcançá-los, em suas plenitudes. Tal como o horizonte, essa linha imaginária que parece unir o céu ao oceano, onde o sol, também, parece mergulhar. Assim são os livros e seus horizontes.
O prefeito e amigo Tadeu Palácio, pela ousadia desse sonho, pela determinação de realizá-lo, pela visão construtiva e futurista com que tem marcado sua gestão, entra, definitivamente, para história do restrito quadro de gestores que se eternizaram na memória do povo, por obras que o tempo não apagará. Aqueles que, como disse Camões: Por obras valorosas se vão da lei da morte libertando.
A história registra que Miguel Ângelo, depois que concluiu a belíssima estátua de Moisés, umas das obras primas do Renascimento italiano, tão apaixonado ficou, olhando a perfeição daquela estátua que, desesperado pôs-se a ordenar, batendo-lhe com o cinzel: Fala, fala, fala…!
Nosso prefeito, mais comedido, vendo a beleza, o fulgor do sonho que concebeu, transformado em contagiante e envolvente realidade, resolveu transferir seu gabinete de despacho para aquele espaço, e ali ficou durante todos os dias da Feira, manhã, tarde e noite, ouvindo a fala, a voz, de sons audíveis e inaudíveis que dali emanaram, dando prestígio à Feira e aos livros.Sua presença ali foi forma mais explícita de demonstrar seu apoio, seu apreço às tradições culturais de nossa cidade que ali estiveram fundidas, em teatro, dança, música, poesia, culinária, crenças, usos e costumes, de mãos dadas, numa grande ciranda onde as crianças puderam brincar, manusear, ver, sentir, fazer, penetrar nos cenários de todas os processos de comunicação formal e informal que ali se mesclavam, se uniam para louvar o pensamento, a criatividade, o livro e o homem.
É muito importante para todos o contato com o livro, precisamos a cada dia aumentar o nosso hábito pela leitura.