Quando amigos se encontram

O lançamento do meu livro Uma Cidade no Tempo, ocorrido no dia 09 do último mês de outubro, no Convento das Mercês, representou um momento de especial alegria para mim, pela expressiva presença de convidados que deram prestígio, charme, beleza e brilho àquela noite. Ali estiveram, além dos meus familiares, alguns dos mais representativos amigos de minha infância e juventude e isso, por si só, valeu a festa.

Amigos da Praça Deodoro, do colégio Ateneu, do Liceu Maranhense, da Praça de Santaninha, da Faculdade de Direito, companheiros de geração, de sonhos, de esperanças que construímos e espargimos ao vento, sob a aura desta cidade linda que nos acolheu os primeiros gemidos e nos acalentou com lendas e mistérios, em suas ruas e em seus becos românticos.

Sonhos e esperanças que estamos realizando, cada um a seu modo, a seu fazer possível, ante o inelutável da vida. Hoje, podemos nos orgulhar de ter sido seus mentores, os protagonistas de tantos cenários, de tantas manhãs, tardes e noites, que se eternizaram em nós.

Nossas faces, nossos sorrisos, nossos abraços fraternos, ainda parecem os mesmos. Nós ainda parecemos os mesmos. Risos largos, abraços longos e premidos, e uma fraternidade generosa nos lábios, nos gestos, na serenidade que o amadurecimento nos proporcionou.

Havia anos não abraçava alguns deles, nem eles me abraçavam. O tempo em que construímos nossas amizades, nossas esperanças, nossos devaneios e utopias, parece distante, na ordem cronológica dessa luz temporal que nomeamos de vida. No entanto, só parece distante. Nossa memória, nossos laços, construídos na pureza de nossas aventuras, de nossas descobertas e conquistas, são absolutamente nítidos, fortes e indestrutíveis.

Ainda podemos lembrar como fomos, como éramos, como eram as coisas que nos envolviam, que usufruíamos, que falavam de nós e davam de nós seus testemunhos. Ainda estamos vivos, graças a Deus e vamos nos eternizando em nossas ruas, em nossos descendentes, em nossas lembranças, como se fossemos monumentos, becos, ruas e a própria brisa fresca que revolve os cabelos grisalhos de muitos de nós.

Nossos pais, nossos irmãos, nossos outros parentes, nossos professores, nossos amigos mais distantes, nossas mulheres, nossos filhos, nossos netos, todos; sem excluir, deliberadamente, ninguém; todos podem nos testemunhar, onde estiverem. Testemunhar nossa vida de paz e de bons hábitos, sem violentar nossos corpos, nossos espíritos, nossas almas. Testemunhar esta cidade que guardará nossa memória um dia, quando toda a carga emocional, afetiva que cultivamos e esparzimos sobre nossa própria existência, transformar-se, definitivamente, em lembranças.

O livro Uma cidade no Tempo, sendo São Luís essa cidade, representa um esforço intencional de registrar essa memória, de fixar algumas das mais autênticas e puras emoções que nos imantaram, em períodos e tempos de nosso viver, para que não se perdessem essas emoções no peito e nas lembranças de cada um de nós.

Usos, costumes, tradições, saberes e fazeres, incluindo aqueles devocionais, como as procissões, estão sintetizadas, de forma poética, pela pena e pela memória de quem viveu essas emoções, sempre com os olhos e a alma imersos nessa realidade. Eu vivi, nós vivemos, outros viveram.

Não tenho receios de afirmar que essas emoções ainda vivem em nós. Tão intensas e definitivas são as nossas referências infanto-juvenis e adolescentes. Elas marcaram nossas vidas como a própria cidade marcou. Cotidianamente, uma cidade de São Luís foi sucedendo outra cidade, e essas transformações não estancaram. Fazem parte da ordem natural das coisas, pela qual uma coisa vai se transformando em outra, sem perder a essência de sua identidade, de sua origem.

A cidade de agora é a fusão de todas as outras cidades que nossa São Luís já foi. Essa fusão definirá seu futuro também. Por hora, a alegria incontida de homenageá-la, nos trezentos e noventa e cinco anos de sua fundação, com uma obra memorial registrando singelos aspectos de sua identidade e sua cultura. Homenageá-la, confraternizando-me com tantos outros amigos e amigas ilustres que ali estiveram, e encheram de brilho aquela noite e aquele espaço onde os recebi, ao lado de Janaína,minha mulher, que tanto me incentivou e ajudou-me em todos os passos, em todos os momentos, como tem sido em minha vida, desde quando começou me iluminar, com seu amor, com sua lealdade, com seu carinho, com toda a eternidade que o amor de uma mulher pode conferir a um homem que crê, sente e vive o amor e suas plenitudes.

Muitas pessoas estão lendo o livro e me telefonando para falar da intensa emoção que lhes estou proporcionando com essa obra, agradecendo-me por haver decidido reunir e publicar essa crônica que, de alguma maneira, reflete suas vidas. Muitos estão adquirindo o livro para enviar para parentes que vivem distantes de nossa cidade, mas, porque a amam, continuam vivendo aqui, reafirmando a crença de São Tomás de Aquino: “Quem ama não vive onde está, vive onde ama…” Amar a cidade é viver suas memórias, sua identidade, suas lembranças mutantes, como se fosse sua própria vida. É preciso amar a cidade.PS:

O livro Uma Cidade no Tempo está à venda, por enquanto, nas livrarias: Nobel (shopping Tropical, São Luís e Aeroporto), Vozes (Rua do Sol), Leiamundo (shopping Jaracatí), Academia de Letras (Rua da Paz).
Poderá ser, ainda, adquirido, pelos fones: (98)99722004/(98)32270205 e pelos e-mails: ivansarney@uol.com.br e ivansarney@hotmail.com

(Crônica publicada no jornal O Estado do Maranhão, Caderno Alternativo, Coluna: Hoje é dia de…, em 04/11/2007).

One thought on “Quando amigos se encontram

  • 13 fevereiro, 2008 em 19:42
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    Gostaria que vc falace sobre o crime ecológico que está acontecendo na reserva ecológica do rangedor. Será que os deputados não tem vergonha na cara pois estão dematando criminosamente bem ao lado da placa que diz; Reserva Ecológica do Randegor.
    Me comprem um bode! Isso é um descaso para com o povo de São Luís. Pois o IBAMA e a Secretaria do Meio Ambiente estão de braços cruzados esperando a propina que com certeza virá.
    Èta País sem Verginha!

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