Voltando ao abandono da Lagoa

lagoa da jansemEsta semana, no curso da caminhada que costumo fazer,com Janaína,ao longo da Lagoa da Jansen,alternando com um longo circuito em bicicleta,no mesmo espaço,um amigo me abordou, pedindo providências para o estado de arte daquele espaço, que se encontra em franco e acelerado processo de degradação ambiental e urbanístico, amargurando a todos os que por ali transitam, e dali se utilizam para suas atividades sociais e de lazer.

Em sua breve e enfática manifestação, pediu-me que retomasse a proposta de constituição da Associação dos Amigos da Lagoa, sugerida por mim, em mais de um artigo, publicados nesta coluna, nos últimos anos. Assegurei-lhe que retomaria o assunto e o faço, agora, por uma necessidade de reacender essa proposta e motivar, especialmente, os cidadãos que residem em torno daquele ambiente urbano, que viram seus imóveis valorizados com as obras que ali foram realizadas.

A ideia é criar uma associação de amigos, para representar os interesses da comunidade de São Luís pela preservação da Lagoa, e do complexo urbanístico que a envolve. Caberia à essa associação a tarefa de mobilizar pessoas, discutir e aprovar idéias de melhor preservação dos equipamentos que ali existem; implantar uma política de proteção ambiental de toda a flora e fauna que ali vive; promover campanhas de esclarecimentos, de mobilização e conservação dos equipamentos que ali existem; buscar parcerias público e privadas para obtenção de recursos financeiros, específicos para determinados projetos; lutar pela recuperação ambiental da lagoa propriamente dita, de modo a eliminar o mau odor que dali exala; recompor a sinalização vertical e horizontal daquele espaço; lutar pela implantação das cabines de segurança, permanentes, com policiais motorizados e ligados a outras cabines ou centrais de apoio. Essas sugestões são apenas as mais urgentes e claras.

A associação de amigos servirá ao propósito de conservação de todo aquele imenso e inestimável patrimônio, que é de todos nós, que não pode ser condenado ao abandono por ter sido realizado por outro governo, que o deixou concluído e belo, em pleno funcionamento.

Antes das obras que o transformaram no complexo da Lagoa da Jansen, aquele espaço, que só podia ser vislumbrado da avenida Ana Jansen -indo ou voltando entre o retorno do São Francisco e a Ponta D’areia- era apenas um colar verde, de um manguezal rarefeito e degradado, escondendo o espelho d’água da lagoa que, àquela época, já nos brindava com um odor fétido, na maior parte do ano, especialmente, no período de estio. Nada mais era possível vislumbrar, pela inexistência de vias de circulação que nos possibilitassem percorrer e descobrir aquele espaço, na plenitude em que ele veio a mostrar-se, depois das obras.

As intervenções, que ali foram realizadas, permitiram a construção de vias de acesso à lagoa; de um anel circundante, em quase toda a sua extensão; de uma pista de Cooper e uma ciclovia com 5.200 metros; de um anfiteatro; de duas quadras tênis; de duas outras quadras, para uso de múltiplos esportes; de uma arena para prática de skates; de pistas para bike cross; de uma arena para beach soccer; de um mirante, com um expressivo parque ambiental; de ilhas de equipamentos, para musculação; de bares e restaurante; de uma grande praça recreativa; de uma praça de alimentação.Um verdadeiro complexo de intervenções bem concebidas, planejadas e executadas, com a intenção de reabilitar aquele espaço e dar-lhe significados de utilidade para a população da cidade e seus visitantes.

Desde sua entrega definitiva, a cidade passou a se orgulhar de possuir uma área desse porte, dessa natureza, embelezando e enriquecendo nossa história e nossas tradições.Todos somos testemunhas e são testemunhas os turistas que nos visitaram, ao longo desses anos, da excelência em que se transformou aquele espaço, mudando inclusive a conformação paisagística da cidade, que o incorporou com orgulho. Raríssimas são as capitais brasileiras que podem se orgulhar de possuir um complexo urbanístico como esse.

Mais de 10 anos se passaram, desde sua primeira etapa de inauguração. É natural que o desgaste, especialmente provocado pelo salitre e por ações de vândalos, produzissem danos estéticos e funcionais numa estrutura tão grande e diversificada como a que foi implantada ali. O complexo urbanístico da Lagoa da Jansen exibe hoje suas chagas, pedindo socorro.

O atual governo do estado, como o governo anterior, ainda não realizou qualquer obra de manutenção dos equipamentos que integram esse complexo e que são necessários às praticas esportivas, à correta orientação dos usuários daquele espaço, à melhor preservação ambiental,ao cuidado estético com a paisagem, à proteção das quadras esportivas.

Nada foi feito nesse sentido e tudo ali está, vergonhosamente, abandonado. Apenas a iluminação não sofreu danos perceptíveis aos nossos olhos, por estar a cargo da prefeitura.

É como se uma decisão houvesse sido tomada, para que nenhum centavo de real, do erário estadual, fosse investido ali, numa obra que representa um orgulho para nossa cidade, além de sua natureza de bem público, constituído de patrimônio ambiental edificado e natural.

Usuário cotidiano que sou daquele espaço, caminhando ou pedalando, o que faço em dias alternados, posso assegurar que é lamentável o estado de conservação do complexo da lagoa, a começar pela questão ambiental, considerando que as usinas de tratamento de esgoto já estão concluídas e inauguradas, há quase quatro anos. Amar a cidade é preservar o patrimônio público, investindo em sua conservação. É preciso amar a cidade.

ivansarney@uol.com.br

 

One thought on “Voltando ao abandono da Lagoa

  • 11 novembro, 2007 em 23:09
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    Ai que linda defesa não só da lagoa, mas uma ampla defesa ambiental. Eu não moro em São Luis,moro em Brasília, mas quando ia de férias, fazia cooper todas as tardes com o meu Papai querido que agora está no plano espiritual. e ele adorava passear por ali, como ele morava no Edifício Córdoba, dizia sempre: é tão rápido filha querida, daqui a pouco estaremos em casa fazendo o nosso lanche. Tanto é que quando o levei morto dentro do caixão para o Maranhão, específicamente para Paulo Ramos (antiga Bacabinha) onde ele foi o Primeiro Prefeito e anos depois o Primeiro Juíz daquela comarca. Na volta a São Luis e lá da janela do Córdoba não mais quis ir a lagoa da Jansen, seria pura dor e saudades. Parabéns Ivan pela defesa daquele lindo espaço de lazer. Um grande abraço,
    Eliane

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