Empresas e a responsabilidade social

Mundo e empresasAs organizações empresariais têm se esmerado, nas duas últimas décadas, para construírem a prática de um discurso difuso e consistente, que tem como principal conteúdo o importante tema da responsabilidade social. Esse discurso começou a ser amadurecido a partir da década de noventa, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que foi realizada no Brasil, e ficou conhecida como Eco-92.

Ali, com a presença de 179 países, dos cinco continentes do Mundo, foi consagrado o conceito de desenvolvimento sustentável; aprovada a Carta da Terra, e a Agenda 21 internacional que estabeleceu os compromissos dos países signatários, na adoção de medidas de caráter sócio-econômico e ambiental, para o novo século que se avizinhava.
A partir de então, os países signatários vêm montando suas Agendas 21, nacionais, estaduais e locais, dentro daqueles compromissos para o século que já estamos vivendo, tendo como paradigma o desenvolvimento sustentável, onde crescimento econômico e justiça social têm, como diretriz comum, o uso racional dos recursos naturais, de modo a não comprometer a qualidade de vida das atuais e das futuras gerações, e a existência da própria vida no planeta Terra.

Os Relatórios do IPCC, sobre o aquecimento global, acenderam os alertas do Mundo sobre os gravíssimos riscos para a sustentabilidade de nosso Planeta, pelas dramáticas conseqüências, a médio e longo prazo; pelo aumento do nível dos oceanos; pela drástica alteração do regime de chuvas; pelo derretimento de calotas polares. Tudo isso, como resultante do aumento da emissão de gases causadores do efeito estufa, na atmosfera. Subjacente a essas projeções, a conclusão de que esses fenômenos não têm causas naturais, mas são resultantes de ações humanas, ao longo dos últimos séculos.

Com a expansão da Revolução Industrial, no século XIX, o processo de emissão de dióxido carbono na atmosfera acelerou sua crescente escalada, à medida que as fábricas passaram a produzir, queimando óleo e emitindo fumaça pelas chaminés. Além de gases tóxicos, as unidades fabris também iniciaram o processo de deposição de seus rejeitos químicos, sólidos e líquidos, nos rios, nos lagos, nos mananciais mais próximos. Este processo, portanto, é secular.

As organizações industriais têm uma ligação ancestral com toda a complexa problemática que estamos vivendo, e que adverte para um futuro sombrio, do ponto de vista sócio-econômico e ambiental, para as atuais e as futuras gerações. Daí o apelo, daí o esforço quase desesperado que o poder público, em todos os países do Mundo civilizado, está fazendo para conscientizar a iniciativa privada, em todas as suas formas organizacionais, para a tarefa da co-responsabilidade social, para com a sustentabilidade do nosso Planeta.

A tarefa é mostrar a importância da iniciativa privada para o implemento de políticas públicas sustentáveis, buscando incrementar parcerias ou, simplesmente, estimulando essas organizações a agirem isoladamente, desenvolvendo ações, complementares, que contemplem as três vertentes da sustentabilidade, conjunta ou separadamente: a econômica, a social e a ambiental.

A responsabilidade social consiste exatamente no efetivo cumprimento desse compromisso: a contribuição para uma causa que está além da missão empresarial de produzir bens ou serviços, para comercialização no mercado. Mas que diz respeito à sobrevivência da humanidade, à sobrevivência de nosso próprio Planeta, e de todas as outras espécies de sua biodiversidade. Diz respeito, ainda, à geração de trabalho e renda; à busca de melhor qualidade de vida, para as atuais e as futuras gerações, e ao uso racional de nossos recursos naturais.

O apelo da responsabilidade social, como parte complementar da missão das organizações privadas, pode ser disseminado e apreendido como uma necessidade de mercado, num mundo que tem sua economia globalizada, com características sistêmicas. A organizações privadas não poderão sobreviver sozinhas. Elas precisam da ordem social, política, econômica e ambiental. Elas precisam de mercados. Elas precisam de consumidores que possam comprar seus produtos ou serviços. Pensar, portanto, de forma global e agir localmente continua sendo a forma mais eficaz de contribuir para o equilíbrio sustentável de nosso Planeta.

As organizações privadas, entre elas as empresas, podem construir uma Agenda 21 interna, como parte do processo de uma educação ambiental, transversa, onde coleta seletiva, visando a reciclagem; redução do consumo de água; redução do consumo de energia, pela substituição de lâmpadas; pelo uso de interruptores inteligentes; a redução de consumo de papel, a reutilização; a uma deposição mais responsável de seus resíduos químicos; a redução de suas emissões tóxicas. Tudo isso, e muito mais, pode ser parte integrante dessa Agenda, com o comprometimento de todos os que integram essas organizações.

Por outro lado, no tocante ao público externo, programas de caráter social podem ser desenvolvidos na comunidade em que se acham inseridas, gerando um efeito multiplicador, em termos de ganhos comunitários que podem ser educacionais, artísticos, urbanísticos, sanitários, ambientais, habitacionais, laborais.
A responsabilidade social é tarefa volitiva das organizações privadas e sua implementação é uma necessidade de nosso Mundo civilizado, em crise, ante a escassez de recursos públicos, o equívoco de determinantes políticas públicas globais, e as ameaças de hecatombe de nosso Planeta.

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