Sem motivos aparentes para comemorar

 

Dia do TrabalhoOntem, primeiro de maio, transcorreu o Dia do Trabalho, data sempre festiva, em que o homenageado é o trabalhador. Por isso, certamente, esse dia é mais, popularmente, conhecido como Dia do Trabalhador.

Afinal de contas, é o trabalhador quem confere ao trabalho, independente de sua natureza, a qualidade, a excelência e sua própria existência, representando a força produtiva, sem a qual a economia capitalista não estabeleceria suas escalas, na produção. Além disso, não realimentaria o fluxo do sistema econômico, levando a renda para o mercado de consumo, e revigorando a produção.

Em nosso país, no entanto, estamos vivendo um processo de retração econômica, tão agudo, que só no primeiro trimestre deste ano, onze milhões e cem mil trabalhadores perderam seus empregos. Esse processo, agravado pela crise política ou vice versa, ainda levará alguns meses para começar a ser revertido. Levará alguns anos para ser restabelecido.

Enquanto isso, nas famílias de classe média, vão-se avolumando os problemas financeiros, quer pela perda de empregos, quer pela inflação, que anda corroendo os salários daqueles que ainda podem contar com eles.

A indústria de eletrodomésticos está demitindo, por causa da demanda desses produtos, que se encontra profundamente retraída. A indústria automobilística, pela mesma razão, está dispensando, coletivamente.

A economia é um sistema de produção e oferta, de bens e serviços, que se retroalimenta, com base em: capital, produção, oferta, circulação, mercado, demanda. Quando um desses elementos se retrai, a economia perde sua pujança e entra em fase retração ou estagnação, onde a falência, o desemprego, a inflação, acabam correndo o capital e comprometendo a qualidade de vida das pessoas.

A economia, em verdade, é muito mais complexa do que essa pequena síntese que tentei fazer, mesmo não sendo economista, mas tendo estudado seus princípios e elementos essenciais, no curso superior de Administração de Empresas, que cheguei a concluir.

O que importa mais, agora, é refletir que os erros, os equívocos de uma gestão pública, podem comprometer a economia de um município, de um Estado, de um país, por um longo período, e serem desastrosos.

Para essas instituições, isso nada representa. Mas, para uma família, um cidadão ou cidadã, em formação profissional, com projetos de vida produtiva, acaba minando seus sonhos e esperanças, levando-os a desistir de seus projetos, para viver o imediato, onde morar, se alimentar, vestir, assumem prioridades absolutas. Um ano, dois anos, três anos, representam uma eternidade desanimadora.

É doloroso saber e imaginar que o desemprego de pais, com custo de família para manter, representa um colapso, desesperador, no lar, influenciando até em separações, com filhos sem condições de ir para a escola, cortes de luz, de internet, de telefone e mais. Enfim, esse drama que está assolando os lares, de famílias de classe média, é o drama mais destruidor que a realidade econômica de nosso país, no momento, está produzindo, com suas faces crueis de destruição.

Até quando? Possivelmente, até, daqui a uns três anos, se as medidas que vierem a ser adotadas, agora, forem adequadas e encontrarem apoio político para serem aprovadas, mantidas e cumpridas.

Por enquanto, o que sobeja é reclamações de desempregados, de aposentados (como no Rio de Janeiro), onde o pagamento dos aposentados, do serviço público estadual, está atrasado em mais de um mês.

Resta-nos bradar como o poeta Castro Alves, em seu Navio Negreiro:  “…Auriverde pendão de minha terra / Que a brisa do Brasil beija e balança / Estandarte que à luz do sol encerra / As promessa divinas de esperança / Tu que, da liberdade, após a guerra / Foste hasteado dos heróis, na lança / Antes te houvessem roto na batalha /Que servires a um povo de mortalha…”

Os que menos têm são os que mais pagam os custos de todo esse desmantelo, que está assolando nossa economia e nosso país. Para aonde vamos? Essa pergunta está na boca das pessoas, fora do noticiário nacional.

“A dor da gente não saí no jornal”, diz o poeta Chico Buarque, em uma de suas belas canções, de conteúdo social, aludindo ao drama de uma mulher que tentou suicídio por motivos passionais. Nada a comemorar!

Comente

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.