As crianças fazendo arte

thCom o titulo de “São Luís é arte e a criança faz parte”, a Secretaria Municipal de Educação realizou, nos dias 12 e 15 do último mês de setembro, a IV Exposição de Arte, inserida nas homenagens aos 395 anos de fundação de nossa cidade, produzida por alunos da educação básica de nosso município.

O título, no entanto, invertendo a ordem das palavras, poderia ter sido outro: São Luís é parte e a criança faz arte; dado a natureza dos trabalhos ali foram expostos, realizados pelas mãos ingênuas e criativas de dezenas de crianças de 3 a 6 anos de idade, além das turmas da creche e do infantil I, II e III.

Quando crianças, nossos pais costumavam repreender nossas travessuras, com a expressão: -Tá fazendo arte! Fazer arte, no entanto, significava que estávamos fazendo algo que, mesmo não sendo um comportamento socialmente incorreto, era imprudente, arriscado, perigoso, do ponto de vista de nossa integridade física.

As repreensões, que seguiam essas constatações, requeriam obediência imediata. Não fazíamos relutância a nenhuma dessas determinações. Ainda hoje, guardo comigo essa observação e costumo repetir, para mim mesmo, quando vejo crianças em aventuras travessas: -Tá fazendo arte!

Fazer arte, porém, representava momentos de ousadia e liberdade; momentos de criatividade, empilhando caixas ou caixotes, tentando se equilibrar em cadeiras, subindo em árvores, fazendo pulitricas em redes de dormir, e tantas outras formas lúdicas de nosso lazer. Eram, portanto, instantes libertários, em que começávamos a afirmar nossa criatividade, nossa identidade, exercendo-a na arquitetura das formas.

A expressão “fazer arte”, portanto, aplicada às travessuras infantis, tem esse sentido de travessura, de perigo e, conseqüente proteção, por parte dos pais. E tem o sentido de afirmação de identidade, de exercício de criatividade, por parte das crianças. Por isso, talvez, as repreensões às crianças, por esses motivos, deveriam ser feitas com muita parcimônia, para não tolher aspectos tão essências ao sadio desenvolvimento de sua personalidade.

São Luís é parte e a criança faz arte. Apenas para ressaltar o predominante enfoque que pude registrar, percorrendo com Janaína, todos os trabalhos ali expostos, conversando com as professoras, com as coordenadoras, que foram responsáveis pela orientação pedagógica que norteou e deu consistência a tudo o que foi produzido e selecionado para aquela exibição.

Ressalto a dedicação, o entusiasmo, o envolvimento afetivo de cada uma das professoras, coordenadoras, diretoras e adjuntas, com quem conversei, procurando compreender as propostas conceituais sobre as quais se assentaram as diretrizes daquele trabalho.

Relevantes aspectos que integram os cenários de nossa cidade, neste início de século, foram destacados e serviram como material didático em salas de aula, para compreensão de suas características e importância social, cultural, ambiental, paisagística, no contexto de nossas vidas urbanas.

Essa fundamentação teórica serviu de base para a produção dos trabalhos artísticos que os jovens estudantes desenvolveram, contextualizando-os nos bairros onde moram, na família que possuem, nas festas populares que vivenciam, na natureza da qual fazem parte. Tudo isso, com os escassos recursos disponíveis em suas unidades de ensino, e visitas a áreas ambientalmente degradadas, constituiu o grande êxito de toda a mostra com que fomos brindados.

Chamou-me a atenção, de forma especial, os trabalhos de reciclagem de produtos como o plástico, o vidro, o papel, o alumínio. A diversidade de formas criativas. As propostas utilitárias, a partir da vassoura feita de “pet”. Ressalto as denúncias em relação à destruição de nossos manguezais, com a condenação de toda uma cadeia alimentar composta de camarões, peixes, caranguejos, siris, ostras. Tudo resultado da observação, no próprio manguezal, do processo como acontece essa degradação.

Nessa experiência pedagógica, as crianças aprendem lendo, ouvindo, visitando, fazendo. É um processo completo porque abrange as diversas fazes do conhecimento, o processo de percepção do real, e sua reprodução artística, recriando e propondo, muitas vezes, uma outra realidade.

O enfoque na família, em nossa cultura popular, em nosso patrimônio histórico e arquitetônico, em nossos artistas plásticos que integraram o movimento modernista, em nossos escritores. Tudo isso representou uma visão diversificada e plural de nosso patrimônio social, cultural, ambiental e histórico, interpretada por centenas de jovens estudantes de nossa escola pública municipal.

Minhas homenagens ao secretário Moacir Feitosa como gestor, e ao amigo e prefeito Tadeu Palácio, por mais esse aspecto meritório de sua administração.

Pude anotar o nome das escolas ali representadas. Todas são Unidades de Educação Básica. Cecília Meireles (Cidade Olímpica),
Monteiro Lobato (Vila Janaína),
Criança Feliz (Ilhinha),
Joaquim Pinto (Maracujá),
Maria de Jesus Carvalho (Vila Palmeira),
Onório Odorico (Tajipuru),
Dr. Carlos Macieira (Fátima),
Raio de Luz (Ipase),
Jean Norberto e
Balão Mágico .

O local em que ficou montada a Exposição, no entanto, no Jaracati Shopping, não foi compatível com sua grandeza, com sua expressão e magnitude. Razão porque sugiro sua remontagem, ainda este ano, em outro local mais adequado e espaçoso, para que possa resplender toda a beleza e o significado de tudo o que foi ali exposto.

Poucas crianças estavam ali e isso nos entristeceu. Estranhei saber que as autoras de todo aquele acervo de trabalhos não puderam ali estar porque as escolas não conseguiram ônibus para levaram-nas até aquele local. Amar a cidade é fazer artes por ela. É preciso amar a cidade.

 

Comente

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.