Os casarões e nossa memória ameaçados de desabamentos

 

Casaroes arruinadosSempre que começam as chuvas, todos os anos, nos últimos decênios, a Defesa Civil, alerta o poder público e a sociedade civil, para o risco de desabamento que correm alguns imóveis tombados, integrantes do patrimônio histórico e arquitetônico, de nossa cidade.

Ao longo desses decênios, o número dos imóveis ameaçados já foi maior ou menor, por omissão ou ação do próprio poder público e da sociedade civil. Em alguns anos, esse número chegou a setenta e cinco imóveis com risco. Alguns, infelizmente, confirmaram suas inclusões na lista indesejável e chegaram a desabar, total ou parcialmente, gerando perdas, inestimáveis, para a cidade, sua história e sua singularidade, como conjunto urbano imperial.

Conforme levantamento do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, realizado no final de 2015, o número de imóveis ameaçados, este ano, está em cento e um, registrando um sensível aumento, à medida que o tempo passa, mesmo com pontuais intervenções dos órgãos de preservação, em imóveis de propriedade do poder público.

O número de imóveis apontados pelo Corpo de Bombeiros, portanto, representa aqueles que são de propriedade privada, onde é maior a omissão em ações de manutenção e menor o interesse em preservá-los, até pelos custos elevados que isso representa.

Os imóveis de propriedade pública, desde o final dos anos setenta e, a partir dos anos oitenta, quando Aloísio Magalhães arejou o IPHAN, criando a Fundação Nacional PróMemória, passaram a receber ações de manutenção e reabilitação, através do programa de Cidades Históricas.

Como Secretário (Ministro) da Cultura, Aloísio Magalhães montou uma equipe, jovem e dinâmica, para redefinir conceitos e por em prática uma forma de gestão, com participação popular, ouvindo a comunidade. Esse foi o grande e inestimável sucesso de sua gestão, inovadora, valorizando os bens imateriais de nossa cultura, antes, postergados em função dos bens de padra e cal.

Tive o privilégio, o orgulho, o prazer de participar de sua equipe de trabalho, como Diretor Regional da SPHAN/ProMemória.

Escolhido, pessoalmente, por ele, através da leitura de um artigo que publiquei no jornal, como Presidente da Sociedade dos Amigos de São Luís e Alcântara. Estando em São Luís quis conhecer-me.

O escritor e poeta Bernardo de Almeida, então Presidente da Fundação Cultural do Maranhão, que o recepcionava, me ligou, relatou o fato, e me convidou a ir encontrá-los, no aeroporto, aquela tarde. Fui e me impressionei com suas palavras e indagações, sobre a cidade e minha pessoa. Não sabia o que pretendia com tudo aquilo. Era um homem de muita cultura, amante as letras e artes, um artista, um designe de formas e sonhos. Conversamos por horas, até a hora de seu embarque.

Bernardo relatou esse episódio em seu livro: “Éramos felizes e não sabíamos”. Pouco tempo depois, após ser avaliado por outras pessoas, que aqui vieram com essa missão, por ele designadas, fui convidado por ele para ser o Diretor Regional.  

Tive o privilégio de ter sido escolhido, por ele mesmo, para tão relevante missão. Por isso, tinha uma consideração especial por mim, por meus atos de Diretor, por minha visão inovadora e criativa, pela poesia que notava em minhas palavras e naquilo que eu expressava e sabia realizar.

Permaneci como Diretor Regional, por dez anos. Fui exonerado por Collor (pelo nome de meu pai, em meu sobrenome), por pura e absoluta perseguição política, sem nenhuma razão de ser. Não fazia política, não entrei por política. Nunca aleguei prestígio político, que sabia não ter.

Essa história pessoal tem a ver com o tema deste artigo porque me sinto responsável por tudo o que realizei como Diretor Regional, por tudo o que creio ser memória e identidade, como cidadão e político; como um homem fiel e leal a seus princípios, aos seus irmãos e amigos, à minha cidade, onde habito, e vivo todas as suas mutações.

Como vereador, fui o autor da lei que isenta de pagamento de IPTU, os imóveis trombados de nossa cidade. A Prefeita Conceição Andrade a sancionou, em dia de muita emoção para mim. Essa lei sofreu modificações que a aperfeiçoaram, com minha participação, na gestão do Jackson, após a prefeita Conceição. A cidade carece de ações que preservem sua memória.

Publicado no Jornal Pequeno, em 28.02.16, na coluna que o autor assina, nas segundas-feiras.

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