Dilema de pais no processo educativo de agora

 

 

Educação paternaEducar sempre foi uma tarefa difícil para os pais. Difícil pela adequação de padrões morais e éticos, ao tempo e ao espaço, e pelos exemplos comportamentais que precisam dar a seus filhos, permanentemente, transmitindo e ratificando valores expressados por palavras.

Para as crianças, muito mais que as palavras, valem os exemplos que são mais, facilmente, incorporados em suas mentes, em suas formas de falar e agir, passando a integrar suas personalidades. Para eles, a aprendizagem, no lar, é um processo de imitação do que ouvem e veem os pais fazerem.

Padrões morais, conceitos, são mutáveis no tempo e vão refletindo uma moral social, aceita por uma maioria e transmitida pelos meios de comunicação, pelas escolas, pelas famílias, como compatíveis com a época e com o meio social em que estão inseridos.

As mudanças sociais, que sempre aconteciam de forma lenta, longa e paulatina, estão acontecendo de forma muito rápida, veloz e plena, tomando de surpresa cidadãos e sociedades inteiras, por introduzirem novas formas de pensar e de ser; novos padrões morais e éticos; novos elementos de linguagem comunicativa; novos padrões de beleza, construindo e desconstruindo a estética a cada dia. Tudo isso, influenciando o processo educativo, de crianças e adolescentes.

A escola não está imune a tudo isso, fazendo parte desse processo que seduz, extasia, mas gera perplexidades e torna insegura a educação familiar. Essa insegurança é gerada pelos dilemas que são suscitados entre o que pensa e pratica a família e o que expõe e aceita a sociedade, que vai aumentando seu estágio de globalização.

Tem sido difícil para os que somos pais, compreender, acompanhar, por em prática ou postergar, toda uma gama de mudanças de valores, de padrões de condutas e de movimentos sociais, que eclodem no mundo midiático e capitalista de agora.

Essas mudanças, como consequência, atingem a sociedade como um todo, fazendo com que a educação familiar transite por caminhos que são verdadeiros labirintos de razão e emoção, invertendo papeis na hierarquia paterna, sob o pretexto de privilegiar o cidadão, sua liberdade de ser e o exercício de sua plenitude humana. Fonte geradora de dilemas paternos.

No cerne de todos esses conflitos, as redes de televisão, cada vez mais presentes em todos os rincões do mundo, levando a tempo e a hora, em seus programas ou transmissões ao vivo, toda a sorte de mensagens, sem contemplar uma moral social construtiva que ressalve a família.

Focando nossa cidade, para tipificar dilemas e conflitos que constituem objeto desta reflexão, não podemos deixar de citar a escola. Uma gama imensa de educadores e pessoas instruídas, na escola de agora, não consegue conjugar corretamente, verbos, no Pretérito Perfeito, usando o pronome pessoal “tu”. Usam o “tu”, com o verbo na terceira pessoa “ele”: “Tu viu… Tu foi… Tu comeu… Tu bebeu”. Ao invés de: “Tu viste… Tu foste… Tu comeste… Tu bebeste”.

As escolas hoje, ao que parece, no nível fundamental, não ensinam a conjugação de verbos, em seus diversos tempos e pronomes pessoais, como lições específicas. Quando o fazem é usando frases contextualizadas, alegando que a educação moderna não comporta o aprendizado de “decoreba”.

Ora, quem não aprendeu, especialmente, conjugar verbos, como vai usá-los, de forma correta, em contextualizações. O resultado está aí. Até mesmo quem tem o dever de ensinar não sabe conjugar os verbos corretamente.

O mais grave é que, em sala de aula, os alunos acabam aprendendo dessa maneira, repetindo esse erro gramatical, gravíssimo. Para os que somos maranhenses, e fomos educados como excelentes cultores da língua portuguesa, chega a representar uma ofensa. O “tu” é o nosso tratamento mais usual, o que mais caracteriza uma relação de proximidade, de informalidade, de intimidade mesmo.

Em casa, ensinamos corretamente, nossos filhos. Na escola a linguagem está sendo transmitida de forma errônea, por aqueles que têm o dever de transmitir conhecimento, e fazê-lo de forma correta. Esse processo já contagiou mais de uma geração de jovens e precisa ser revertido. No entanto, os dilemas dos pais, no processo educativo, vão muito além da escola e da gramática.

Nota: Artigo publicado no Jornal Pequeno, em 23.11.2015, na coluna que o autor assina, às segundas-feiras.

2 thoughts on “Dilema de pais no processo educativo de agora

  • 24 novembro, 2015 em 7:58
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    Muito bem colocado o texto , essa semana mesmo entrei em um debate sobre conjugação verbal com minha filha de 14 anos , pasmem , ela não sabe, disse que nunca fez os verbos a maneira que estudamos há um tempo atrás. Sobre os educadores não saberem passar aos nossos filhos a linguagem correta, é realmente lamentável, pois nos forçamos dia a dia pelo melhor por eles , e em questão de momentos , nossa educação começa a ser démodé . Artigo muito bom para refletirmos sobre autoridade educacional dos nossos pequenos .

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    • 20 janeiro, 2016 em 12:29
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      O pior de tudo Graziela, é que a escola “moderna” não consegue ver essa triste realidade. Digo isso porque, mesmo sendo alertada, não se move para tratar diferente essa questão tão dramática para nossos filhos e netos.
      A escola tradicional, onde aprendemos a nos expressar, em nossa língua, tinha formas eficientes de transmitir, em sala de aula, essas lições vernaculares;
      tão essenciais para bem falar, bem escrever, bem ouvir, bem ler e bem ver, ao longo da vida.

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