A criminalidade e o medo nosso de cada dia

 

prisão em casaO crescimento, galopante, da criminalidade social está deixando a sociedade brasileira amedrontada, quase em pânico, a julgar pelos depoimentos que vítimas têm prestado, publicamente, e pela proliferação desse tipo de ocorrência, no noticiário nacional.

Os moradores dos centros urbanos, seja em capitais; seja em regiões metropolitanas; seja em pequenas cidades do interior, já estão se acostumando às histórias de crimes qualificados e hediondos, e a rixa ocasional cedeu lugar ao latrocínio e aos homicídios de encomenda.

Quem, morando em qualquer centro urbano, ainda não ouviu falar, não conhece ou não sabe indicar uma vítima da criminalidade social? É muito difícil, hoje, com os jornais da televisão recheados desse tipo de noticiário, todos os dias. Noticiário que, ao tempo em que esclarece, informa e previne, serve para instruir novas transgressões, gerar novos episódios e amedrontar  cidadãos.

Os seres humanos somos racionais. Mas, a maioria de nossas atitudes são determinadas por um componente emocional, que as preside finalmente. Somos emocionais e isso explica a indagação que fazemos a nós mesmos, cheios de culpa: “Onde estava com a cabeça, quando agi daquela maneira”?

De outro modo: “Não sei como pude fazer aquilo”! Isso porque, a força do emocional é impulso primitivo, e determina nossos comportamentos. Somos seres emocionais, dotados de razão.  

Atitudes aqui mencionadas, independem de classe social, de faixa de renda, de nível educacional. A crônica da vida nos mostra, a todo momento, situações que ilustram e confirmam que agimos, quase sempre, pelo viés emocional.

Faço essas reflexões para relacionar o que chamei de “medo nosso de cada dia”, com a criminalidade social, neste artigo. Esse medo nos faz buscar refúgio, no aconchego de nosso lar, no âmbito de nossa família, evitando as ruas, certas horas do dia.

O medo nosso de cada dia, de certo modo, nos torna reclusos para nos contrapormos à violência das ruas; nos faz murar; proteger, com cerca elétrica, nossa casa; nos faz por câmeras, para registrar o movimento das ruas circunvizinhas, a entrada e saída de nossa casa. Tudo, como medidas de proteção.

O mesmo medo nos faz evitar contatos com desconhecidos; nos faz andar, com pressa e desconfiados, ao entrar e sair de bancos, de Casas Lotéricas, e de todos os locais onde possamos supor, ser vítimas de assaltos ou de outras violências.

O mesmo medo nos faz ter arma em casa, e reagir a qualquer ameaça de agressão à nossa integridade física. O medo nosso de cada dia nos faz reagir a um pequeno incidente no trânsito, de forma desproporcionada e violenta; nos faz reagir, passionalmente, a um sentimento não correspondido, atentando contra a vida do seu ou da sua parceira.

Do mesmo modo, as relações de vizinhança, em pequenas cidades ou em muitos bairros, estão sendo influenciadas por esse medo, na medida em que as cadeiras nas portas; as conversas de fim de tarde, estão cedendo lugar ao silêncio vazio das portas fechadas e das pessoas recolhidas.

Há dados, na estatística dos crimes contra a vida, que são dramáticos e indicam um futuro social sombrio. Entre eles, o crescimento da criminalidade entre os menores de dezoito anos, e a constatação de que os jovens têm sido suas maiores vítimas.

Além disso, as escolas públicas, que representam instrumentos de inclusão social, pela prática da educação libertadora, têm sido palco de rixas, entre grupos de estudantes. E esses estudantes têm sido vítimas letais de suas imaturidades.

Paralelamente, as pessoas estão vivendo e andando com os nervos à flor da pele. Por qualquer palavra, menos prudente, explodem e vitimam aquele que a pronunciou ou, com gestos, deu causa à ira de seu interlocutor. Essa reação, muitas vezes, por causa do medo nosso de cada dia, acaba em morte.

Nota: Artigo publicado no Jornal Pequeno, em 09/11/2015, na coluna assinada pelo autor.

                           

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