Retomando a proposta de bondes

Mesmo compreendendo a natureza dos mandatos parlamentares, onde está implícita a temporariedade, muitas vezes tenho sentido o amargor de estar fora da Câmara, nesta legislatura. Acostumei-me, em três mandatos consecutivos de vereador, por São Luís, a usar a tribuna e expressar meus pensamentos, a debater idéias, sem jamais ofender ou agredir algum vereador, oponente político ou que, simplesmente, não comungasse com minhas idéias. Acostumei-me a apresentar projetos que hoje estão transformados em leis importantes para nossa cidade.

Fiz e faço política de resultados, além de rancorosas questões partidárias e de grupos. Por isso, talvez, esteja amargando um imenso, inaceitável e incompreensível ostracismo político, em meu próprio grupo. Mas continuo sonhando, projetando e defendendo idéias em que acredito, sem ofender ninguém, sem pretender ser a última palavra em nada, apenas pelo ofício de pensar, de sonhar um futuro melhor para nossa cidade, nosso estado e nosso país. 

Senão vejamos. Em meu primeiro mandato, tive a oportunidade de propor, através de Requerimento, aprovado em plenário, que a então prefeita Conceição Andrade determinasse a realização de estudos técnicos, visando avaliar a possibilidade de reimplantação das linhas de bondes que a cidade possuiu, até o final dos anos sessenta, como forma alternativa de transporte coletivo, na área do Centro Histórico.

Fiz essa proposição por considerar que o crescente fluxo de ônibus de transporte coletivo, no centro da cidade, trazia e traz uma série de inconveniências de caráter social e ambiental, além de representar uma grave ameaça à preservação do conjunto arquitetônico tombado, pelos danos à fundação daquelas edificações. 

Que inconveniências de caráter social e ambiental são essas?  A poluição atmosférica, pelo gás carbônico; a poluição sonora, pelos elevados ruídos dos motores; os cada vez mais freqüentes engarrafamentos; os riscos de vida a transeuntes, nas calçadas; a deformação da camada asfáltica, pelo peso desses veículos; o abuso de velocidade, incompatível com o centro; os aumentos no custo das passagens. Além disso, a ameaça à preservação dos imóveis tombados, pelos danos causados às suas fundações, pelas tonelagens desses veículos, quando lotados.    

Os estudos requeridos por mim não foram procedidos pela administração municipal, o que nos fez perder um precioso tempo no cronograma de possível adoção desse transporte alternativo, em nossa cidade.

Por que os bondes? Da minha parte, defendi e defendo essa proposição baseado em argumentos difíceis de refutar. Senão vejamos: os bondes já existiram como transporte coletivo, em nossa cidade, envolvendo toda a sua área urbana, até o final dos anos sessenta, quando a febre de desenvolvimento os extinguiu. Eles tinham uma escala compatível com a cidade e faziam o trajeto de suas principais ruas, movidos a eletricidade. Este é o argumento histórico. O fato de terem sido movidos a eletricidade nos fornece o argumento fundamental de sua contemporaneidade: não eram e não seriam poluentes agora, nem do ponto de vista sonoro, nem do ponto de vista do ar atmosférico, uma vez que não produziam e não produziriam resíduos químicos. 

Além disso, tinham um custo barato para a população e eram muito bucólicos, contribuindo para um clima romântico, para um convívio social mais intenso entre as pessoas que os utilizavam, e personalizavam a nossa cidade, com muita propriedade.

É claro que os bondes de agora não seriam os mesmos de outrora. Seriam bondes contemporâneos, talvez mais compridos, com uma tecnologia mais avançada, com um conforto mais aprimorado, compatível com nossas necessidades de cidadãos do século XXI. Porém, com as características fundamentais de serem movidos à eletricidade, contribuindo para a preservação da natureza e para uma melhor qualidade de vida, a partir do ar que respiramos.

Os novos bondinhos poderiam ficar restritos ao Centro Histórico, circulando nas áreas tombadas, levando e trazendo pessoas, em suas diversas linhas, que poderiam ser as mesmas dos bondes de outrora.

A realidade que está imperando é a realidade do ônibus e do micro ônibus,  de todo um conjunto de inconveniências, do ponto de vista ambiental e urbano, por serem poluentes químicos e visuais, por contribuírem para um tráfego mais lento, mais conturbado e caro, uma vez que utilizam recursos naturais esgotáveis como o petróleo: no combustível, pneus e aditivos. Esses veículos, a partir da implantação dos bondes, deixariam de circular pelo centro da cidade, restringindo-se também a circulação de automóveis, por medidas paralelas e complementares.

A reativação desses bondes, como transporte coletivo, seria um ponto de grande influência no processo de revitalização do núcleo tombado, fazendo com que pessoas pudessem transitar com mais tranqüilidade, com mais economia, por essa parte da cidade. Quem sabe, por nossas ruas ainda correrão novas rodas, novos sonhos, novas esperanças que os motorneiros, cobradores dos velhos bondes tanto souberam conduzir e alimentar. Precisamos debater, discutir e tomar uma decisão urgente, porque o trânsito, no centro histórico, está à beira de um colapso.     

Quem sabe o prefeito João Castelo, com sua larga experiência de executivo, um visionário e sonhador, também, se interesse por essa idéia e determine a realização dos estudos necessário para sua implantação, sem ônus para os cofres municipais. Isso é viável e pode ser buscado através de concessão pública.

Estou disponível para participar das discussões e dos estudos necessários e para outros projetos que possam engrandecer nossa cidade, nosso estado.

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