O privilégio de ser testemunha

Estivemos no colégio Dom Bosco na última sexta-feira (25), Janaína e eu, participando de uma solenidade muito especial para aquele colégio. Mais especial, ainda, para sua fundadora, professora Maria Izabel Rodrigues, e para todos os seus descendentes, entre os quais suas filhas: Ceres e Elizabeth, ex-alunas daquela escola, e suas atuais e incansáveis dirigentes.

A solenidade, quase toda protagonizada por alunos do nível fundamental, foi realizada em comemoração ao 49o ano de fundação daquela tradicional escola, consagrando pela voz, pelo canto, pela dança; pela esperança simbolizada nas crianças, a trajetória de tantas lutas vencidas, de tantos sonhos realizados, de tantas novas utopias por conceber e realizar.

Naquela solenidade, tudo foi singeleza e humildade. Mas, também, grandeza, plenitude, realização pessoal e profissional. Afinal de contas, quarenta e nove anos representam quase meio século, de intensas lutas e renovação para viver.

Neste caso, no entanto, do ponto de vista da história da humanidade, representam um tempo psicológico (científico, cultural e político) muito maior, por algumas razões inelutáveis. As principais delas, que marcaram o século passado (século XX) foram: a conquista espacial, com a chegada do primeiro homem à lua (1969), e a descoberta do Mapa dos Genomas Humanos (2001), que está possibilitando as pesquisas com as células troncos.

No âmbito da cultura, foi a época da revolução cultural na China comunista de Mao Tse Tung; do reinado absoluto dos Beatles; da contracultura dos hippies; do festival de Woodstock. Fatos e movimentos que marcaram, de forma definitiva, a trajetória do homem na face da Terra.

Por outro lado, o mundo se alimentava, ainda, da genialidade de Pablo Picasso, de Salvador Dali, na pintura; de Pablo Neruda, na poesia; de Jean Genet, de Eugêne Ionesco, no teatro; de Jean Paul Sartre, na filosofia.

No campo político, a guerra fria, sedimentada na disputa armamentista, na corrida espacial, entre o capitalismo (EUA) e o comunismo (URSS), e os demais países da chamada Cortina de Ferro, mantinha o mundo sob constante ameaça de uma guerra sem precedentes. Mais ameaçadora do que a guerra que findara em 1946, depois das bombas nucleares que destruíram Hiroxima e Nagasaki.

Pois bem. O colégio Dom Bosco construiu sua existência nesse período, nascido em 1958 que o foi, pelos sonhos e a determinação de prof. Maria Izabel e seu marido, prof. Luís Pinho, de quem recordo o corpo magro e os óculos permanentes, nas faces finas.

Nasceu e formou sua existência no âmbito de uma família de educadores, que gerou uma descendência de educadoras e educadores; e que privilegia a formação integral de seus alunos, ministrando-lhes as disciplinas curriculares, mas envolvendo-lhes na prática de atividades esportivas e culturais, intensas, no âmbito da escola, nas relações interescolares, com estimulada participação de suas famílias. São exemplares as montagens de óperas, nos últimos anos.

Seu primeiro abrigo foi na Rua do Passeio. Uma meia-morada azulejada, bela, íntegra, em sua presença singela e acolhedora, numa das ruas mais tradicionais de nossa cidade. Ali, jovem estudante de direito, fui jurado num festival de poesia, a convite de Ceres, que enchia de orgulho, de esperanças, de sonhos a todos os que tínhamos o prazer de conhecê-la.

Ali estudou minha irmã Cristina, que integrou o coral da escola, juntamente com Silvana Duailibe. Recordo-me de haver aplaudido esse coral, num festival de coros, no Arthur Azevedo, e de me haver encantado com sua apresentação. Ali estudaram, ainda, as amigas, Rosângela, Rosani e Teresinha Penha. Ali, também, estudou Márcia Tavares. Lembro sem medo de errar.

O tempo foi cumprindo sua trajetória de eternidade. Milhares de pessoas e os fatos que protagonizaram, para muitos, já foram esmaecidos, já pertencem ao reino das lembranças ou ao mundo do vazio e do esquecimento. “O homem está na cidade, como uma folha está num livro, quando o vento ali o folheia…”

Mas o amor pereniza tudo, inclusive as lembranças temporais, quando nossas obras transcendem nossos sonhos e passam a ser sonhos coletivos. “A cidade está no homem quase da mesma maneira que a árvore voa no pássaro que a deixa…” Ferreira Gullar.

Pois bem, o mundo continuou seu processo de secularização. Ciência e religião; Deus, família, usos e costumes (tradições) se digladiaram e digladiam, num processo de investigação da humanidade a respeito de sua própria origem e da origem do universo. A escola amadureceu nesse processo de diálogo, de construção do novo, de enfrentamento dos desafios e não teve receios de enfrentá-los, mesmo na ausência de seu patriarca, fundador.

O colégio dom Bosco está no século XXI, instalado, há alguns anos, em sua sede atual, no bairro Renascença. Uma escola bela e imponente, em sua forma arquitetônica, essencialmente moderna, esbanjando vitalidade e conquistas, como atestam suas instalações de agora, e a imensa e bem montada exposição de 950 troféus (organizada por Isabela) conquistados por seus alunos, nas mais diversas modalidades esportivas, ao longo de sua existência.

Ali estudaram e concluíram o nível fundamental e médio, meus filhos Luciana, Liana e André, e isso sempre me encheu de orgulho. Especialmente, nas feiras de ciências que tive o prazer de acompanhá-los.

Parabéns a todos que fazem o corpo discente, docente e a administração dessa escola maravilhosa, patrimônio de todos nós, porque forma e educa nossos filhos para os desafios do futuro. Amar a cidade é testemunhar e repercutir suas vitórias. É preciso amar a cidade.
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