Um momento especial para refletir

A cidade de São Luís comemorou, esta semana, os dez anos de sua inscrição como Patrimônio Cultural da Humanidade. Por capricho do destino, não pude estar presente a nenhum dos eventos que marcaram essas comemorações, por me encontrar ausente da cidade. Mas acompanhei, pela internet, a programação oficial organizada pela Prefeitura para marcar essa data.

Ao longo desses dez anos, foi a primeira grande comemoração que a cidade recebeu, com patrocínio municipal, para realçar essa conquista obtida junto à UNESCO, considerando a importância de sua existência para a compreensão da trajetória cultural do homem europeu, na Terra.

Poucas cidades no Mundo têm o privilégio dessa distinção que as ressaltam aos olhos dos pesquisadores, dos estudantes, dos turistas, como relíquias que devem ser visitadas, estudadas, compreendidas e preservadas para servirem de referência material para as atuais e as futuras gerações, daquilo que o engenho humano foi capaz de conceber e edificar, para exercício de sua existência.

Recordo-me que os passos iniciais do processo desse reconhecimento, pela UNESCO, foram dados ainda no governo do Presidente José Sarney, quando o nosso querido Josué Montello foi Adido Cultural do Brasil, em Paris. O processo permaneceu em letargia, por um longo período, sendo retomado somente na gestão de Roseana como governadora do Estado. Ela foi, pessoalmente, a Paris, oficializar o pleito e revigorar os entendimentos institucionais, então, adormecidos.

No curso desses dez anos, o município de São Luís cresceu, de forma veloz e, de certo modo, com planejamento insuficiente para contemplar ocupações urbanas ocasionais, intenso crescimento populacional, incremento de veículos novos em malha viária sem suficiente sem expansão; adensamento habitacional; degradação ambiental de áreas verdes, com acentuada poluição de seus principais rios.

Tudo isso, como resultante de um crescimento populacional desordenado, um inchaço na relação do homem com o espaço urbano, pelo poder nuclear das capitais em ralação às cidades do interior; pela efetiva metropolização dos municípios da Ilha de São Luís; por outros fatores de natureza sócio-econômicos.

O Centro Histórico, sem sombra de dúvidas, também sofreu e continua sofrendo as conseqüências dessa expansão urbana, sob pressão especial do mercado imobiliário, que precisa de espaços para acomodar a implantação de novos interesses comerciais. Uma área densamente construída e sob a proteção legal do tombamento estadual e federal, cumulativa ou complementarmente.

Há questões que, provavelmente, estiveram no centro dos debates que aconteceram no Fórum realizado na quarta-feira, dia 05, no colégio Santa Tereza. Entre elas, essa conflitante relação do interesse imobiliário e os interesses da preservação.

É necessário que aperfeiçoemos o Plano Diretor e algumas leis complementares para tornarmos mais rígidas as regras de licenciamento, de zoneamento, de posturas, de parcelamento e uso do solo. Com regras mais rígidas, os planejadores, os agentes públicos, os cidadãos, o mercado imobiliário terão parâmetros mais claros e duradouros a serem seguidos, numa política de preservação claramente definida.

A relação do transporte urbano com o Centro Histórico é outra questão séria que precisa de uma proposta de solução urgente, privilegiando o cidadão e a cidade. A esse respeito, tenho defendido, especialmente nesta coluna e na Câmara Municipal, que debatamos uma proposta que venho apresentando, há algum tempo, pretendendo que o bonde seja considerado como uma possibilidade de transporte que contemplaria os cidadãos e a cidade.

Os bondes já existiram como transporte coletivo, em nossa cidade, envolvendo toda a sua área urbana, até o final dos anos sessenta, quando a febre de desenvolvimento os extinguiu. Eles tinham uma escala compatível com a cidade e percorriam suas principais ruas, movidos a eletricidade. Esse é o argumento histórico.

O fato de terem sido movidos a eletricidade nos fornece o argumento fundamental de sua contemporaneidade: não eram e não seriam poluentes agora, nem do ponto de vista sonoro, nem do ponto de vista do ar atmosférico, uma vez que não produziam e não viriam a produzir resíduo químico nenhum.

Além disso, tinham um custo barato para a população e eram muito bucólicos, contribuindo para um clima romântico, para um convívio social mais intenso entre as pessoas que os utilizavam, e personalizavam a nossa cidade, com muita propriedade.

Os bondes de agora não seriam os mesmos de outrora. Seriam bondes modernos, talvez mais compridos, com uma tecnologia mais moderna, com um conforto mais aprimorado, compatível com nossas necessidades de cidadãos modernos. Porém, com as características fundamentais de serem movidos a eletricidade, que temos em abundância e que não é poluente, contribuindo para a preservação da natureza, e para uma melhor qualidade de vida, a partir do ar que respiramos.

Tais bondes ficariam restritos ao Centro Histórico, circulando em suas áreas tombadas, levando e trazendo pessoas, em suas diversas linhas que poderiam ser as mesmas dos bondes de outrora.

Outra questão é a concessão de estímulos à preservação do acervo tombado e uma permanente campanha de educação sobre a importância de preservar todo esse acervo. A população está muito mais sensível e participativa. Mas esse trabalho não pode parar. Amar a cidade é preservar seus bens culturais. É preciso amar a cidade.

(Crônica publicada no jornal O Estado do Maranhão, Caderno Alternativo, Coluna: Hoje é dia de…, em 08/12/2007).

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