A chegada do outono e as lições de renascimento

 

outonoAs estações do ano, ainda que não nos apercebamos, exercem uma profunda influência sobre nós, regendo nosso estado de humor, nossos hábitos de vestir, comer, agir; nossa disposição para realizar atividade física e intelectiva; nosso estado emocional, para lidarmos com nossos sentimentos; nossas produções artísticas, com seus temas e cores, e muito mais.

Afinal, somos seres vivos, integrantes do sistema planetário onde a Terra se insere, e não poderia ser diferente conosco, pois fazemos parte da biodiversidade do nosso Planeta, numa ordem universal.

O que nos torna diferentes é a capacidade cognitiva de poder pensar, estudar, criar teorias, projetar soluções e executá-las; registrar e difundir conhecimentos, sentir e externar, falar e saber fazer silêncio, inclusive para ouvir a voz das coisas. Enfim, nossa inteligência, capaz de estudar outras galáxias, a centenas de anos luz da Terra; criar aeronaves para viajar a outros planetas e trazê-las de volta, em dia e hora pré-determinados.

Somos capazes de criar robôs que realizam tudo que o homem programa, inclusive microcirurgias, sem lesões, em locais do corpo humano, de dificílimo acesso às mãos do homem. Mas, muito além de criá-lo, o homem reafirma sua supremacia sobre o cérebro eletrônico.

Em música antológica, nos anos setenta, o poeta e filósofo, Gilberto Gil reafirmou: …”Só eu (o homem) posso pensar se Deus existe, só eu / Só eu posso chorar quando estou triste, só eu / Eu cá, com meus botões de carne e osso / Eu falo e ouço / Eu penso e posso / Eu posso decidir se vivo ou morro, porque / Porque sou vivo, vivo pra cachorro, e sei / Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro / Em meu caminho inevitável para a morte / Porque sou vivo, vivo, muito vivo, e sei / Que a morte é nosso impulso primitivo, e sei / Que cérebro eletrônico nenhum / Me dá socorro, com seus botões de ferro e seus olhos de vidro”…

A sexta-feira santa, no entanto, precisa de reflexões que possam unir  sentimentos de todos os cristãos, no dia de hoje. O dia em que Jesus, preso, é submetido ao calvário de sua crucificação, e falece para ressuscitar três dias depois. Não há dor sem alegria implícita, podemos concluir. A Páscoa, então, encontra seu sentido mais subjacente, na ressureição que possibilita o surgimento do Cristianismo.

Para nós, habitantes do Hemisfério Sul, do planeta Terra, o outono chegou no dia 20 de março e, logo começará a espargir sobre a cidade, algumas de suas características mais definidoras. Os dias menos úmidos, as noites mais longas, as temperaturas menos quentes, por menor incidência de luz solar; árvores com os galhos secos e folhas caídas.

A missão do outono, por desígnio Divino, é realizar a transição entre o verão, farto de luz e sol, e o inverno, farto de águas e umidades. As águas do inverno regam a terra e a fecundam para a chegada da primavera, que chega com a exuberância das flores e do clima seco, com dias fartos de sol.

Os galhos secos das árvores, o cenário árido, que vai se impondo ao verde  – com que as águas, as chuvas do verão brindaram, e construíram nossa paisagem – vai dominar a paisagem em poucos dias, indicando uma mudança que, fatalmente, influenciará nossa paisagem e nossa forma de viver esses dias.

Observemos a natureza. Que sentido tem essa troca de folhas que as árvores realizam, despindo-se da opulência verde e farta de suas folhagens, de suas flores, de seus frutos, para se exibirem nuas, com seus galhos tortos, sem a melodia dos ventos em suas ramagens, sem a beleza de suas vestes naturais?

Há o sentido explícito da renovação. De substituir suas folhas, talvez, com brocas, e feridas pelas pragas das estações anteriores, especialmente, o verão, com suas chuvas atemporais. Abrir mão de uma vida anterior, para receber a nova vida que, fatalmente, se sucederá. O outono, com sua paisagem árida, exibe a beleza desse ensinamento, que pode representar uma lição de vida, para todos nós.

Também temos folhas, muitas delas, com pragas de tempo, de formas, de conveniência, de utilidade, que podemos fazer despender de nossos galhos, para renovarmos nossa vida, para adotarmos uma vida nova, na sucessão das vidas que, em vida, vivemos sobre a face da Terra. O outono também nos dá lições de renascimento. Vivamos o outono com renovação.

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