O sentido da Páscoa é celebrar a ressureição

Páscoa FelizMarço de 2016. Estamos na Semana da Páscoa. Católicos, no Mundo inteiro, reviveremos, esta semana, tradições que herdamos de nossos antepassados, e que fazem parte de nossos referenciais, de nossa história de vida: tradições da religião Católica.

Tradições que, pela força indestrutível do saber e do fazer cultural, vêm sendo transmitidas, a filhos e netos, há mais dois mil anos, por uma Igreja de apóstolos, de sacerdotes, de fieis, tendo a Bíblia Sagrada como livro perene, onde estão enfeixados os ensinamentos de Cristo e a força de sua religião: o Cristianismo.

O tempo, senhor absoluto de todas as coisas, também operou mudanças nas celebrações dessa festa, em nossa cidade. Quando crianças, éramos instruídos sobre o calvário de Jesus Cristo: seu sofrimento, sua crucificação, sua ressureição, no terceiro dia. 

Sabíamos que, na sexta-feira, Jesus estava com dor de cabeça e não podíamos falar alto, gritar, correr, fazer zoada enfim, para não incomodá-lo. Essa tradição era tão expressiva, socialmente, que a Difusora, emissora de televisão, já operando na cidade, nesse dia não funcionava, não tinha programação nenhuma no ar. Isso, em respeito à tradição religiosa que o povo cultivava. Era preciso fazer silêncio, falar baixo, não incomodar.

As rádios, em suas programações, passavam o dia tocando músicas instrumentais, tristes, compatíveis com o clima da Sexta-feira Santa: um clima de dor e nostalgia, que deixava a cidade entristecida.

É o dia em que Jesus esteve no Gólgota, à espera daqueles que viriam prendê-lo e levá-lo para viver sua via de crucificação. Dia em que Jesus, sentiu medo, temeu por si e pediu: “Pai, afasta de mim esse cálice. O espírito está preparado, mas a carne é fraca”.  

Nos dias de hoje, esse costume já não tem a relevância de outrora e os pais não exigem de seus filhos o respeito a essa tradição. A própria igreja já não realça a necessidade de cumprimento desse comportamento de seus fieis.

Os cinemas da cidade, o Éden, o Roxy, o Rialto, o Rival, exibiam filmes que mostravam o “Calvário de Cristo”, durante a semana inteira. Meu avô nos levava, os menores, para ver esses filmes. Pareciam ser os mesmos, a cada ano, mas ali estávamos. Nas salas de cinema, a dor, o choro sentido e indignado de nós, crianças, era o som que dominava as sessões. Saíamos tristes, todas às vezes, cheios de indagações, de perdão, de raiva dos seus algozes.

Já adultos, essas tradições passaram a ostentar outros brilhos para nós, pois a Procissão do Encontro, realizada na quinta-feira, era um espetáculo grandioso de fé e comoção religiosa. Com um público imenso, essa procissão representava a união de duas procissões em uma só. Uma, que saía da igreja de Santo Antônio, com a imagem de Nossa Senhora, e outra, que saia da igreja da Sé, com a imagem de Jesus, a Procissão da Fuga.

O Encontro acontecia no Largo do Carmo e, de lá, a procissão prosseguia até a Praça Deodoro, descendo pela Praça de Santaninha, onde morávamos.  Ali a Verônica fazia um belo canto, mostrando o rosto de Jesus, ensanguentado, como se ali fosse uma das paradas do seu Calvário, a caminho da crucificação.

Nada era mais comovedor, por tocar a alma de todos os que ouviam aquele canto. A procissão parada e a Verônica, alçada num pequeno pedestal, pedindo a todos que olhassem o estado daquele homem, com as faces ensanguentadas, pela coroa de espinhos cravada em sua cabeça.

Ela exibia um grande lenço, com o rosto de Jesus estampado. E perguntava, representando o que dissera Nossa Senhora: “Olhai senhores e digam se há dor maior que a minha dor”!

Uma multidão de pessoas, de faces tristes, formava essa procissão. Ali, o Calvário e a dor. As famílias enfeitavam suas casas com flores, bandeirolas, e vinham para as janelas assistir a passagem da procissão.

A Páscoa, no entanto, é a ressurreição, o milagre da vida que possibilitou a Jesus Cristo a existência do Cristianismo. Uma religião ungida em seus ensinamentos de perdão, de solidariedade, de luta pelos menos favorecidos, pela liberdade dos oprimidos, pelo milagre da vida eterna. A Páscoa, essencialmente, é a vida ressurgida; a vida que morre e nasce dentro de nós, em nossas utopias e esperanças, a cada novo dia. Que assim seja!

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