A feira e o universo mágico do livro

images (8)O convite para participar da abertura da 4ª Feira do Livro de São Luís chegou a meu endereço residencial na última quarta-feira, enviado pela Academia Maranhense de Letras, para onde foi remetido, a julgar pelo endereçamento constante no envelope que lhe serviu de contingente.

No envelope, de forma manuscrita, as palavras: “Ao Senhor Ivan Sarney/Academia Maranhense de Letras/Nesta“. Mesmo sendo, em minha avaliação, um tratamento essencialmente frio e inadequado, representa uma forma de convidar, sem dúvida alguma. Esta forma, no entanto, não é a mais elegante e correta. Afinal de contas, além de Senhores e Senhoras, na Academia somos, protocolarmente, Acadêmicos, independente de sermos escritores. Um convite para um Acadêmico, enviado para a Academia deveria, necessariamente, observar esta condição. Um convite enviado para a residência do Acadêmico poderia ser destinado ao Senhor ou Senhora, sem representar qualquer deslize, sem suscitar melindres. Para a Academia, não. Por isso, este registro de insatisfação.

Mas, independente do endereçamento, que credito a um grave descuido protocolar, o convite anuncia a realização da Feira, usando uma linguagem moderna e situando o livro, em sua importância de bem cultural, num contexto de Mundo. Para tanto, usa a forma circular, simbolizando o globo terrestre, numa proposta de inspiração cinética, criando a ilusão de movimento e 3D – lembrando Victor Vasarely e sua Optical Art – povoando-o de cubos e retângulos tridimensionais, que representam e sugerem livros. Bela concepção!

Entre esses cubos e retângulos um é dedicado ao rosto do grande Acadêmico, escritor maranhense, José Louzeiro, de quem tenho o orgulho de ser amigo, sendo seu admirador. É ele o Patrono da Feira este ano, e a engrandecerá com sua presença, a exemplo da Feira anterior. A beleza de concepção e forma do convite, no entanto, seria maior o nome do evento (Feira do Livro) não estivesse escrito com letras minúsculas e acanhadas, mesmo parecendo ser, essa, uma proposta do designer.

O texto do convite, no entanto, é que compromete a organização do evento, de forma cruel. Ali está escrito: “A Prefeitura Municipal de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura, tem a honra de convidá-lo para abertura da 4ª Feira do Livro de São Luís, que este ano tem como tema Livro, guia e instrumento da sabedoria”.  Pergunto: convidá-lo, quem? Convidá-lo é tratamento da terceira pessoa: convidar ele. O convite está dirigido para a segunda pessoa: a pessoa com quem se fala. Logo, o tratamento correto seria convidar-lhe.

A Academia Maranhense de Letras participou das duas primeiras Feiras, na administração do prefeito Tadeu Palácio, e deu sua contribuição na própria organização do evento, participando ativamente de sua realização, numa cooperação muito saudável e necessária. Na atual administração, a Academia não participou na 3ª e não está participando da atual, a julgar pela ausência de seu nome no convite, como parceira ou apoiadora.

Apesar de tudo, quando esta crônica estiver publicada, no domingo, a Feira já estará em seu 2º dia de abertura, em pleno funcionamento, cumprindo o seu destino e objetivo, no calendário cultural de nosso município. Estará reafirmando nossas tradições literárias, para as atuais e as futuras gerações. Congratulo-me com a administração do prefeito João Castelo, por seu empenho e sua realização.

Uma feira de livro, onde quer que seja realizada, representa um momento especial para a cidade que a acolhe, para as pessoas que nela residem, para os que por ela transitam, por toda a energia positiva que dela se desprende; pelas esperanças que semeia, pelos frutos que dela advêm e advirão sempre, contemplando e refletindo cenários que se renovam, sem fim.
Além disso, ela tem um imenso poder semeador. Ela representa um momento especial de apelo, ao público leitor, para que desbrave, cada vez mais, os horizontes do livro. Os mundos que ali estão retratados, e que são perceptíveis, por cada um de nós que temos oportunidade de interpretá-los, com a escala de conhecimentos e valores que estamos construindo, ao longo de nossas vidas, a partir de nossas famílias. E na escola, com a dedicada participação de nossas professoras.

Esses mundos parecem inatingíveis horizontes, na amplidão das abordagens que abrigam, na complexidade do real e do onírico que refletem; na perplexidade que o homem expõe e condensa, na compreensão do universo, refletindo o transitório e o perene, sob o mistério sensível, mas insondável de Deus.

Mundos que parecem se distanciar de nós, a cada esforço que desprendemos para alcançá-los, em suas plenitudes. Tal como o horizonte planetário, essa linha imaginária que parece limitar e unir o céu à Terra, por onde o sol parece mergulhar. Esse horizonte, que nos encanta e seduz, parece existir para nos atrair ao seu encontro, para nos seduzir a sonhar e a marchar, olhando para frente, sempre à distância.

Por isso, é preciso que estejamos preparados para viver esse evento como um dos mais importantes eventos de nossa cidade, agora e sempre. Amar a cidade é cultivar sua tradição cultural, a partir dos livros.
 
ivansarney@uol.com.br

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