A São Luís do Maranhão

 

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“Minha Terra tem plameiras, 

onde canta o sabiá”,
isso é lirismo de poeta,
a gente pensa de cá!
Mas, ao penetrar-se em barcos,
na Baía de São Marcos,
vemos que há mesmo
palmeiras,
e muitas palmeiras lá.

 

E emoldurando as palmeiras,
há jardins verdes, floridos,
ruas que sobem ladeiras,
azulejos e vitrais…
Poesia dos tempos idos;
chafarizes esquecidos,
romances adormecidos
em solares coloniais.

 

E na fronde das palmeiras,
há mesmo alados cantores,
enlevos dos sonhadores,
ternura dos namorados…
Dos platônicos mancebos
que se ficam nas calçadas
a acenar para as donzelas
nas janelas dos sobrados.

 

“Minha terra tem primores,
que tais não encontro eu cá;”
velhos fortins dos franceses,
igrejinhas seculares:
Carmo, Remédios, a Sé
Mãe das primeiras Missões!…

 

De cujo púlpito Vieira
plantou a fé brasileira,
com a augusta sementeira
de seus famosos Sermões.

Tem recantos encantados,
de um bucolismo sem par;
Sacavém, Ponta d’Areia,
São José de Ribamar…
o velho farol de Alcântara,
o bumba-meu-boi do Anil
e outras relíquias da história
pitoresca do Brasil.

 

Tem aquela preta velha
da Rua dos Afogados,
que foi preada em Angola,
deu bons preços nos mercados…
foi tudo para os senhores…
amargou de mão em mão
e traz, na pele, gravado
o drama da escravidão.

 

Tem o português “dos secos”
e o português “dos molhados”,
tem o turco “dos retalhos”
e o turco “dos atacados”,
tem a “pipira” morena
lá da rua do Alecrim,
que aos domingos, toda chic,
vai fazer seu pic-nic
e à noite em Campo de Ourique,
quem paga tudo é o Joaquim.

 

“Nosso céu tem mais estrelas”
na noite calma e deserta…
infinita porta aberta
para um mundo de poesia!
“Nossas várzeas têm mais flores”,
além das rosas meninas
que florescem nas esquinas
da Praça Gonçalves Dias.

 

“Nossos bosques têm mais vida”
na magia feiticeira
dessa Atenas Brasileira
de artistas e pensadores.
Graças à luz expendida
por uma extirpe luzida;
“Nossos bosques têm mais vida,
nossa vida mais amores.”

 

“Em cismar, sozinho, à noite,
mais prazer encontro eu lá;”
pela Praça João Lisboa,
recitando o “Marabá”,
ao longo da Praia Grande,
no botequim da Sinhá,
tirando gosto da pinga
com refresco de cajá, 
ouvindo ao luar de prata
acordes de serenata,
com trovador e com flauta,
com violão e ganzá.

 

“Não permita Deus que eu morra,
sem que volte para lá;”
sem que carregue, contrito,
o andor de São Benedito,
na bênção que ao povo aflito,
em procissão, ele dá;
sem que ainda prove pequi,
cupuaçu, bacuri,
cambica de murici
e um bom arroz-de-cuxá…

 

Quero morrer, na verdade,
na minha velha Cidade,
namorando a antiguidade,
numa rede de algodão…
Dando um adeus ao passado, 
um viva a Pedro II,
na melhor terra do mundo,
São Luís do Maranhão.

   
Autor: José Martins D´Alvarez

 

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