A muito branda torrente feminina

Ao longo da história da humanidade, a mulher tem exercido um papel de fundamental importância para a civilização humana, como elemento catalisador de sonhos, de esperanças, de todos projetos mais duradouros e perenes que têm motivado as ações do homem. Ações que motivaram seu desejo de fixação, em contraposição ao nomadismo da pré-história; que fizeram nascer as religiões e o poder; que conduziram à necessidade de produção, de expansão territorial, de construção das cidadelas, das fortalezas; que motivaram guerras, como a de Tróia; que inspiraram a constituição da família; que distinguiram os povos e as nações; que fizeram o progresso das ciências e o mundo contemporâneo.

Na síntese de toda essa evolução, a presença da mulher, do simbolismo de sua ternura, de sua força, na maternidade que lhe é imanente, como ponto de partida e chegada para todas as empreitadas de conquista que o homem se envolveu, se envolve e envolverá.

A mulher é o mais importante referencial da família. É ela quem gesta, quem pare, quem cria, mais diretamente, quem educa e, hoje, quem provê, a maioria dos lares, em nosso país. A mulher, a mãe, a trabalhadora, o ponto de equilíbrio das intempéries sociais.

Para elas, todos os poemas, todas as canções, e tudo aquilo que melhor possamos qualificar, nesse plano de energia temporal, onde começam e terminam nossos encantos e desventuras. Para elas, todas as palavras que possam traduzir o indizível, que possam realçar, ante os olhos e os sentimentos das nações e dos povos, a sua condição de ser especial, singular e Divino.

No entanto, apesar de toda a grandeza espiritual e física da mulher, vivemos num mundo dominado por sentimentos de conquistas, de supremacia, de intensos preconceitos quanto ao ser feminino. Paradoxalmente, os conflitos de gênero que nossa civilização registra apontam o homem como o principal agente agressor, enquanto a mulher vem sendo vitimada, na maioria dos casos, a partir de seu próprio lar.

Os veículos de comunicação têm mostrado aspectos gravíssimos desse conflito contemporâneo: a relação homem e mulher, independente mesmo de cultura, formação religiosa e nível econômico.

Precisamos de mais campanhas e mais repressão que venham inibir a violência contra as mulheres. Essas campanhas são da mais alta relevância para a sociedade e para o futuro, pois elas chamam à reflexão e à responsabilidade, todos nós, incluindo o poder público, a família, as instituições que devem estar vigilantes, resguardando direitos e deveres essenciais do cidadão.

Entre os tipos de violência está a gravíssima forma da violência sexual. As novelas, os comerciais, os filmes, os desenhos animados, estão impregnados de apelo sexual, erótico, predispondo as pessoas à liberação de suas energias sexuais, de forma irresponsável e criminosa, muitas vezes.

O desejo sexual é um dos mais fortes e incontroláveis impulsos primitivos que temos. Freud, ao formular a teoria da libido, o fez com bases em estudos e observações de casos, em seu consultório de psicanálise. Significa dizer que somos todos, independentemente, de nossa formação e cultura, conduzidos à prática do sexo, por uma necessidade vital mesmo, como elo de preservação da espécie humana. É força instintiva, inelutável, da natureza animal.

Precisamos, no entanto, nos conscientizar, como seres inteligentes que somos, para a prática de um sexo com responsabilidade, com consciência de seus riscos, especialmente para aqueles que não dispõem ainda de maturidade para a compreensão desses riscos, que são os adolescentes e as crianças.

As leis estão ai e são severas para os casos de estupro, para os casos de homicídios. Mas ainda não o são, nos casos de assédio, seja qual for a sua forma. Como proteger nossas crianças desses abusos e dessas violências? As escolas podem ser um caminho eficiente. A família, com certeza, também pode ser.

Todos podemos ajudar a libertar aqueles que estão presos a esses dramas, como vítimas. Todos podemos fazer algo construtivo, se não pactuarmos com o silêncio, se soubermos ser vigilantes indignados, com essa dura e destrutiva realidade.

Para onde vamos? Para onde irão nossas crianças, nossas meninas? Vamos todos para o futuro. Mas para qual futuro? Se não soubermos encontrar respostas satisfatórias às nossas perplexidades e expectativas, poderemos sucumbir, presos em nossas próprias teias, fazendo mergulhar na descrença e no desânimo, nossos sonhos e esperanças; enchendo de sombras e escuridão o futuro que estamos ajudando a construir, para ser um novo momento de glória para o homem, para Deus e para a humanidade.

ivansarney@uol.com.br

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