Toldando o brilho das festas

Já estamos na metade do mês (dia 15) e, até à presente data, nossas festas juninas ainda não começaram. Nenhum dos arraiais previstos para acontecer, na cidade, iniciou sua programação. Ainda estão finalizando a construção de suas barracas, a ambientação de seus espaços, deixando apreensivos todos os que vivenciamos essas festas, que amamos nossas tradições, que queremos ver o Maranhão, cada vez mais, inserido do roteiro turístico do Brasil e do Mundo, pelo peso de nossa história, de nosso patrimônio cultural.

O mês de junho, para nós, é permeado de datas litúrgicas, importantes do ponto de vista devocional, por envolver quatro santos muito amados pelos que integram a igreja católica: Santo Antônio (dia 12), São João (dia 24), São Pedro (dia 29) e São Marçal (dia 31).

Por serem santos muito populares, ligados aos milagres que o povo espera sempre, dos santos aos quais se apega, os quatro santos de junho recebem festas no País inteiro. Mas é nordeste, onde esses festejos são mais intensos, e constituem uma tradição que vem sendo mantida, nos últimos séculos, com intenso fervor popular.

Santo Antônio é o santo da família, por ser considerado “casamenteiro”. É dele que as meninas esperam um sinal, uma indicação, sobre aquele com que deverão se casar, nas adivinhas, nas promessas que fazem, nas simpatias que revigoram, com suas esperanças. É a ele que elas recorrem, especialmente, no seu dia, para renovarem seus sonhos de casamento, e de constituição de suas famílias.

Promessas são feitas e, muitas vezes, para serem pagas ao longo da vida, como agradecimento pela graça alcançada. Santo Antônio é o santo padroeiro de nossa família, por extrema devoção de meu pai, que transmitiu a todos nós, através de uma prática de orações, de visitas, de reiteradas graças alcançadas, a obrigatoriedade de sua presença em nossos oratórios residenciais, e em nossas preces.

São João, um dos mais expressivos evangelistas, pastor de ovelhas, é muito adorado pela proteção às crianças. Muitos pais de família lhe pedem interferência para resolver problemas de saúde de seus filhos, netos, e lhe são gratos pelas graças concedidas.

Entre esses agradecimentos, além das orações, das promessas de vestir, de fazer certas obrigações de caráter mais pessoal, está o compromisso de montar brincadeiras, de entretenimento cultural.

O bumba-meu-boi, quase sempre, é resultado de uma promessa que alguém fez, em algum momento, a São João, por uma graça alcançada. Essa promessa, em geral, é feita para ser paga durante a vida de quem a fez. Algumas vezes, no entanto, vai além da vida de quem a fez, seguindo pela vida daquele que foi beneficiado direito pela graça alcançada, sempre um descendente.

O fato de ser resultante de uma promessa define o caráter religioso, que permeia as festas a eles oferecidas, aos santos de junho, por seus devotos; muito embora, os conteúdos das brincadeiras sejam essencialmente profanos.
São Pedro é santo protetor dos embarcados, dos homens que vivem do mar, e de suas famílias, porque era pescador. É um santo de decisiva importância para o catolicismo, porque Jesus lhe disse, quando ainda ele era apóstolo: -Tu és pedra e sobre essa pedra assentarei minha igreja.

São Marçal está muito ligado à tradição do bumba-meu-boi, aos cantadores, não sei bem precisar o porquê, além das razões que incensam Santo Antônio e São João. Mas sua festa tem reunido todos os conjuntos dessa brincadeira, em nossa ilha, em folguedos de dia inteiro, no bairro do João Paulo e adjacências, como um santo ligado ao ciclo de junho, onde impera a família, a culinária maranhense, os artistas da terra, os arraiais, fortalecendo nossas tradições de cultura.

Nos últimos anos, especialmente, nos anos de governo de Roseana, as festas de junho já estavam começando no dia 12, véspera de Santo Antônio, prolongando-se até o dia 31 ou até o dia 02 de julho, se o domingo caísse em um desses dias.

Nos últimos quatro anos, a festa vem começando cada vez mais tarde, porque o poder público estadual vem sendo o grande incentivador dessas festas, no tocante a seu aspecto público, onde está a montagem dos arraiais, a contratação de brincadeiras para alegrá-los, a divulgação dos eventos, dentro e fora do Estado.

Este ano, até à presente data, nada de arraiais. A notícia é que os arraiais patrocinados pelo poder público só terão início no dia 22 e deverão se estender até o dia 31. É muito pouco tempo para uma cidade que espera, vive, e cultiva essas festas. O investimento será de 10 milhões, conforme foi anunciado semana passada, no lançamento oficial das festas. É muito dinheiro para pouco tempo de festa. Muitas pessoas esperam o ano inteiro por essa festa que é mais popular e importante do que o carnaval, para nós. Isso tolda o brilho das festas que só não será menor porque arraiais privados, montados pelo povo, já estão funcionando, em escala menor. Amar a cidade é fortalecer suas festas populares. É preciso amar a cidade.