A lamentável ausência do Maranhão

Os milhares de turistas que estão visitando o Rio de Janeiro, neste período dos Jogos Pan-americanos, Rio 2007, têm dezenas de espaços acolhedores para visitar como o Pão-de-açúcar, o Cristo Redentor -eleito recentemente uma das sete maravilhas do mundo- o Parque do Aterro do Flamengo, as praias da Zona Sul, da Barra da Tijuca, o bairro de Santa Tereza, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Jardim Botânico. Lembrando apenas os mais famosos.

Todo esse acervo -quase mítico pela magnitude de sua existência, pelo impacto estético e emocional que produz naqueles que têm a oportunidade de conhecê-lo- representa um inestimável patrimônio natural e urbano dessa cidade linda que, por sua vez, é patrimônio de todos os brasileiros.

Tudo isso, além da incontestável beleza morena de suas mulheres, do jeito alegre, festivo e loquaz do carioca, sempre disposto a um pé de conversa, a uma gozação, com batucada, pagode e samba. Esse jeito de ser, alegre e comunicativo, reflete o caráter e a identidade de nosso povo: hospitaleiro, musical, comunicativo. Sempre disposto a ser útil, informando aos que buscam informações, especialmente aos visitantes, dando-lhes exemplo de receptividade, convívio e bem viver, a seu modo.

Mas os organizadores desse grandioso evento esportivo quiseram mostrar um pouco mais de nosso País, aos brasileiros e aos turistas estrangeiros que estão nos visitando, neste mês de julho, especialmente motivados pela realização do Pan. Quiseram mostrar um pouco do que somos e do que temos a oferecer, além dos belos e modernos centros esportivos.

O Brasil está presente através de três belos e grandes espaços denominados de Mostra do Salão do Turismo/Roteiros do Brasil, organizados pelo Ministério do Turismo, em articulação com os estados. Está presente em Copacabana, como um belíssimo painel para receber os turistas estrangeiros e os brasileiros que aqui estão. Tudo simples, sem grandes custos de montagem.

Esses espaços, que abrangem todas as regiões do País, estão abrigando estandes, onde os estados estão representados com o mais significativo de seu patrimônio cultural: seu artesanato, sua arquitetura, seus encantos naturais. Tudo isso, com recepcionistas que vieram desses estados para receberem visitantes e prestarem informações, distribuindo material sobre seus destinos e roteiros turísticos.

Pois bem. O Maranhão está ausente nesse espaço que recebe, por dia, algumas centenas de visitantes de muitas nacionalidades, ávidos por informações sobre nosso País. O que existe do Maranhão é um painel, com uma foto das ruínas da igreja das Mercês, em Alcântara.

Alcântara é uma belíssima cidade histórica, Patrimônio Nacional. Possui um acervo arquitetônico riquíssimo. Mas isso não foi mostrado. Uma igreja arruinada, isolada, sem qualquer informação sobre ela, ou onde ela está localizada, não significa nada para quem olha pela primeira vez.

Nada de São Luís. Nada de Lençóis. Nada de nossas praias. Nada de Carolina. Nada de qualquer outro destino turístico do Maranhão. Nenhum folheto, nenhuma pessoa para informar nada. Apenas uma fotografia na parede e o nome Maranhão.

Pergunto para organizadores pelos os informativos sobre o Maranhão. A resposta vem rápida e curta: “O Maranhão não veio. Não mandou nada, nem ninguém”. Não escondo minha decepção e minha vergonha, por essa ausência.

Como pôde o Maranhão ficar ausente? Fechar os olhos, fazer tanto descaso de participar de um evento como esse, com convergência de interesses das Américas, e de boa parte do mundo? Eu próprio não encontro explicações. Portanto, fico na espera que alguém me explique. Ou ainda, na espera que alguém nos dê explicações públicas, a todos os maranhenses, já que os interesses de estado são interesses públicos. Esse, sem dúvida, é um caso exemplar de descaso com legítimos interesses públicos.

Tirei umas fotos (postadas em meu blogue, juntamente com uma parte significativa deste texto) que mostram bem o que estou expressando aqui. Enquanto o Ceará, Pará, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Tocantins, se esmeraram na apresentação de seus estandes, o Maranhão está simplesmente ausente dessa Mostra, tão importante oportunidade para divulgação de nossos atrativos como destino turístico. Que pena! Esperamos que não seja sempre assim, prejudicando nosso Estado.

Esse descaso vai contra os interesses sócio-econômicos que temos, contra a necessidade de geração de emprego, trabalho e renda que temos; contra o discurso de diminuição da pobreza, de redução das desigualdades sociais.

O turismo é uma vocação natural de nosso Estado, pela pluralidade de seus recursos naturais; pela diversidade cultural de seu povo; pelo acervo arquitetônico que ostenta em suas cidades mais antigas; pela beleza de seu povo, de seus usos e costumes; por sua história de quase quatrocentos anos.

Não podemos abdicar do esforço que já foi feito para promover nosso Estado como destino turístico, com o Plano Maior, com a difusão internacional de nossas potencialidades, de nossa São Luís como Patrimônio Cultural da Humanidade. Não podemos abdicar do patrimônio natural que representam os Lençóis, destino de interesse mundial, pela singularidade que lhe caracteriza.

Não podemos, também, esquecer que dezenas de profissionais de turismo estão sendo formados por nossas faculdades particulares, dentro da perspectiva de trabalharem pelo desenvolvimento de nosso Estado, com um acervo natural e cultural que lhes diz respeito, que conhecem e amam. Amar a cidade é promovê-la aos olhos dos podem vir e dos que vierem visitá-la. É preciso amar a cidade.

(Crônica publicada no jornal O Estado do Maranhão, Caderno Alternativo, Coluna: Hoje é dia de…, em 29/07/2007).

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