As recorrentes vítimas do modismo estético

vitimas de modismo esteticoNão resta dúvida que os adolescentes, nas duas últimas décadas, tiveram e estão tendo, ainda, melhores oportunidades de tratarem de seus próprios corpos, com orientações técnicas nas academias, nos clubes, nas escolas, porque o conhecimento científico evoluiu e colocou à disposição do homem certos recursos teóricos e mecânicos, que as décadas precedentes não tiveram.

Afora isso, há um natural aperfeiçoamento da espécie humana, um ser em constante e imanente processo de evolução, na Terra. A ciência, com o avanço do conhecimento técnico, com as descobertas da cura de tantas enfermidades letais; a consciência de uma alimentação mais saudável; o aumento do poder aquisitivo; dos meios de produção; tudo isso contribuiu para esse aprimoramento estético de nossa juventude, aliado ao fator de maior diversidade de miscigenação étnica.

É bom que tenha sido assim. Agradecemos, com entusiasmo, essa evolução. O encanto, a sedução, o amor agradecem. Acredito que tudo o que é, verdadeiramente, grande e permanente no homem, das formas mais variadas,  se ufana com esse aperfeiçoamento estético da humanidade.

O mundo é feito de formas. Ele foi concebido exatamente para permitir ao homem viver, mas para viver na comunhão do sentimento, da emoção, do enlevo, do encanto. Sol, lua, mar, vale, montanhas, rios, lagos, tudo tem mais de uma função na natureza. Uma delas é ligada à sua existência física, dentro de uma ordem natural, que é cósmica e que lhe atribui tarefa específica, na harmonia do universo. Uma outra está ligada à subjetividade humana, à alma de quem vê, de quem o sente, por exemplo,  sol: que nasce e morre, que muda de coloração, que emite a luz, calor, que é belo por ser redondo e por parecer mover-se com pressa, para deitar-se no mar ou nas montanhas.

A criança, o adolescente, o adulto, todos somos assim. Temos mais de uma função, na natureza, e bem o sabemos disso. Uma delas é a perpetuação da espécie, por isso o sexo é uma imanência e nos acasalamos por instinto. Uma outra é a celebração do amor, do encanto, do êxtase, como forma de dialogar com Deus e com a nossa própria alma. A única diferença é que o mar, o sol, os rios não envelhecem, como nós. Eles são perenes como o tempo e, como o tempo, vão fluindo e nos levando contra nossa vontade.

No entanto, os jovens estão sendo as maiores vítimas desse modismo estético. Instrutores, inescrupulosos, vendem e aplicam anabolizantes e esteróides, muitas vezes, nos próprios locais onde esses jovens se exercitam. Esses produtos têm uso controlado por lei, por serem extremamente danosos ao homem, em especial, ao coração e aos órgãos do aparelho respiratório e locomotor.

O uso desses medicamentos é proibido pelas federações esportivas, por causar desequilíbrios em seus usuários, podendo proporcionar-lhes aparentes vantagens em uma disputa, mas fazendo-lhes um mal, em curto prazo, irreparável.      Tenho o orgulho de ser o autor de uma lei municipal que deveria estar protegendo a juventude e os adultos, contra a ditadura do modismo estético, que impele os adolescentes à febre do ganho de massa muscular, com recursos químicos, para terem maior definição corporal, para se sentirem mais fortes, mais belos, mais atraentes, fisicamente.

A lei, que à qual me referi, instituiu o registro de academias, e congêneres, na Secretaria Municipal de Saúde, que deveria estar exigindo uma série de documentos, como pré-requisito para fornecer-lhes o Registro de Atividade. Sem esse registro, não seria possível a uma nova academia obter Alvará de funcionamento, nem a uma outra, que tenha a licença findada, renová-la.

As academias, clubes e congêneres, deveriam estar, segundo a lei, sob a fiscalização e controle da Semus, por ser essa uma questão de saúde mesmo, não de esporte. Com isso, saberíamos quem são os instrutores, com seus currículos e suas habilitações profissionais, por área de atuação nesses locais.

Saberíamos, ainda, informações sobre esses espaços: os equipamentos que usam, os métodos que utilizam, de modo a dar uma segurança aos pais, aos adultos e aos adolescentes que os freqüentam, e podem estar sendo induzidos ao erro do uso de anabolizantes ou outras drogas nocivas. São chamados de “bombados” aqueles que fazem uso desses esteróides e anabolizantes. “Bombados” porque, com aqueles músculos ressaltados, do dia para noite, a pessoa parece estar cheia de ar mesmo, inflada, por esses produtos que podem conduzir à morte.

Quantos jovens já estiveram hospitalizados, de urgência, quase mortos, depois de receberem doses desses produtos? Quantos já morreram? Acho que o culto ao corpo pode ser efetuado sem esses recursos que são ilegais, que depõem contra a vida, que subjugam adolescentes aos interesses comerciais criminosos de uma meia dúzia de irresponsáveis, que precisam ser denunciados e punidos.

É dever do poder público mover-se contra isso, em nome do interesse  público de proteção do cidadão, da família e de todos nós. Amar a cidade é proteger a juventude e criar condições para a construção de um futuro melhor. É preciso amar a cidade.

ivansarney@uol.com.br

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