A família, no âmago de todos os problemas sociais

 

problemas sociaisAs reflexões sobre os dramas e as tragédias sociais, no mundo inteiro, por mais que envolvam uma série de causas motivadoras, vão encontrar a família no seu âmago, em sua origem definitiva. Afinal, todos somos resultantes da educação que recebemos em nossa família.

Ao longo dos séculos, a família exerceu papel de fundamental importância social, resistindo a todos os regimes de governo, a todas as correntes de pensamento econômico e religioso. E assim permanecerá, pelos séculos vindouros, enquanto o homem existir na face da Terra.

Em nosso país, na sociedade patriarcal que vicejou na colônia, os pais detinham, de forma quase absoluta, a autoridade e o poder sobre os filhos e os destinos da família. Eram eles que decidiam sobre a educação, relacionamentos sociais e comerciais, casamentos e trabalhos de suas proles.

Tudo, quase sempre, atrelado à necessidade de manter os filhos, como células produtivas, para os negócios da família. Entre os negócios estava o casamento prometido, onde o dote e a agregação de poder eram a grande motivação. Tudo o que pudesse representar poder e riqueza era pretendido, numa sociedade que vivia em torno de títulos de nobreza e comércios, ligados ao Império.

No século passado, as famílias ainda ostentavam muito da sociedade patriarcal. Os pais mantiveram grande poder sobre os filhos, especialmente, aqueles que podiam ser traduzidos em: respeito, reverência, temor, obediência.  

Eram os pais que proferiam a última palavra sobre tudo aquilo que pudesse ser dúvida, questionamento. Isso era aceito, sem maiores resistências. Pais não podiam ser e não eram contrariados, em suas decisões finais. Essas decisões eram acatadas, integrando uma ordem natural, onde filhos e pais cumpriam um pacto silencioso, uma regra de manutenção da própria família.

Dessa regra natural resultava o sucesso da unidade familiar. O respeito absoluto à pessoa da mãe, como centro de convergência de todos, e do pai, como o chefe da família, o agente do trabalho.

A mãe, com sua função de matriarca. Acolhendo, ensinando, disciplinando, orientando e agasalhando, amando e educando. O pai, congregando todos, pelo exemplo, pelo amor e pela disciplina rígida, onde estavam incluídos os castigos corporais, as privações do lazer preferido e os enérgicos sermões sobre atos de conduta e diretrizes para a vida.

O mais importante. Havia uma estrutura familiar, com pais presentes e filhos educados para reconhecê-los e acolher suas autoridades. Essa estrutura familiar resistiria hoje a uma análise profunda, sobre fatos sociais que representam o drama da sociedade contemporânea: latrocínios, homicídios, estupros, rixas. Em síntese, violência e criminalidade.

Resistiriam com louvor, porque se formos levantar os jornais desse período, iremos encontrar índices inexpressivos dessas ocorrências. O que nos remeteria à consideração de que isso foi possível, pela forte presença da família estruturada e unida, com princípios tradicionais e edificantes a transmitir a seus descendentes.

A sociedade contemporânea já não abriga, como regra, essa família. Os múltiplos afazeres da mãe, trabalhando fora do lar; os pais em jornadas de trabalho, às vezes, em cidades distantes de sua família; os divórcios; as mães solteiras. Além disso, as dificuldades de moradia, de provimento da família. As crianças crescendo, sob educação básica de terceiros: em creches, com babás, com “folguistas” ou com parentes.

Assistidas, sim. Mas, com pais ausentes a maior parte do dia. Muitas vezes, os pais só vão ver os filhos quando eles já estão dormindo. E saem para trabalhar com os filhos dormindo ainda.

Essas situações estão compondo a regra, não a exceção. Sem o amor, sem a autoridade paterna e materna eficiente e efetiva, os filhos estão perdendo o respeito pelos pais, que acabam sendo reféns de seus próprios filhos, na tentativa de demonstrar-lhes afetos.

Começam por ceder em pequenas coisas. E vão cedendo, cada vez mais, até não poderem retroceder. A grande crise social da violência e da criminalidade tem a desagregação da família em seu âmago. Políticas públicas, de proteção à família, poderão reverter essa situação, ao longo deste século.

Nota: Artigo publicado na coluna que o autor assina, no Jornal Pequeno, em 19.10.2015.

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