Abrindo as janelas da alma para o ano Ano Novo

Os jardins ainda exibem, na exuberância das flores, os sinais da primavera que há poucos dias nos deixou. Mas já estamos em janeiro, com todas as esperanças que iluminam o Ano Novo. O ano de 2010 já pertence ao passado, com todos os fatos que imprimiu em nossas vidas, independente do conceito que deles possamos ter. O que foi esperança, o que foi presente, muitas vezes ansiado, agora é simplesmente lembrança. É lembrança e é passado, respaldando os nossos passos presentes, projetando os nossos sonhos futuros e nos motivando a escrever nossos destinos, de forma renovada.

Cada dia é uma vida nova e nos convida a novos sonhos e novas esperanças, levando-nos à compreensão de que somos seres emergentes, propensos a nos descobrir, a nos desenvolver como pessoas, a amar, a buscar a nossa transcendência, nos elevando para a compreensão da energia difusa e una que é Deus.

Os dias que se sucedem vão registrando os referenciais de nossa vida presente, pretérita e futura, dando-nos a oportunidade de repartir com outros, um pouco da luz que conseguimos absorver, em nossa trajetória pessoal. Para onde vão nossos passos? Para onde levamos nosso amor, nosso ódio, nosso perdão, nossa iniquidade? Para que servem os instantes de êxtase, de perplexidade, de encanto e prazer, em que nosso corpo e nossa alma mergulham, ao longo de nossa existência temporal?

Estamos a serviço de quem, a serviço de quê, no curto tempo de nossa permanência na face da Terra? Estamos a serviço da vida, talvez; a serviço de um aprimoramento espiritual, de um aprimoramento humano, dada a essência de nossa espécie evolutiva. Estamos a serviço do ser e do tempo, a serviço de Deus.

Nossos ancestrais não amaram, certamente, como amamos, por que não tinham o acervo de conhecimento de que hoje dispomos sobre nós mesmos, sobre o amor e sua complexidade. Não tinham a compreensão que temos hoje, sobre as forças cósmicas do universo em movimento, com seus campos magnéticos, suas emanações de luz, suas distâncias e proximidades, suas forças em constantes movimentos, que a tudo e a todos nos fazem vivos.

Dessas lições cósmicas, talvez a mais permanente, a mais profunda e mais essencialmente útil para nós, seja a compreensão de que tudo no universo é movimento e que, a cada milésimo de segundos, os cenários da ordem universal mudam e não se repetem nunca, da mesma maneira.
Vivemos num mundo de exclusividades, de unicidades paisagísticas, que se transfere para todas as espécies vivas. Nenhum ser vivo é igual a outro ser vivo, ainda que da mesma espécie e gêmeos, de quaisquer tipos.

Somos seres únicos no mundo e somente isso já nos dá uma exata dimensão de nossa importância pessoal, da relevância de nossa vida, para a compreensão de outras vidas, para a celebração da supremacia humana, sobre todas as outras criaturas vivas, que Deus colocou na face da Terra. Além disso, de todas as criações Divinas, o homem é a única que pode refletir, raciocinar, emitir conceitos, formular teorias, conhecer intelectualmente, qualquer aspecto de uma realidade. Somos, por isso mesmo, a mais bela criação Divina, porque podemos emitir juízo crítico sobre todas as outras, julgando-as como belas, feias, inúteis, úteis, pela exclusiva capacidade intelectual de que somos dotados.

Como é útil poder raciocinar que toda a realidade física, em torno de nós, muda em segundos e que nós, por força dessa mudança, também mudamos sob o aspecto físico, emocional, sentimental, procurando, mesmo sem sabermos, nos adaptar às novas condições do meio e a ele sobreviver, buscando realizar nossa destinação para o amor e para a liberdade.

Muito além de cada um de nós, no entanto, está nossa alma coletiva, um sentimento que não é individual, e que reflete a condição humana como um todo, inclusive com heranças ancestrais de nossos antepassados. Essa alma coletiva traduz anseios, esperanças que muitas vezes nem sabemos que possuímos, mas que estão latentes em nossos atos, nos atos de nossos semelhantes e que por isso mesmo, nos irmanam. Por isso mesmo, também, nossa alma coletiva nos transcende, é maior que nós e se projeta por séculos, por gerações, se transformando em códigos genéticos e orais que determinam o caráter, a índole de um povo, com todos os seus usos e costumes.

A cidade em que nascemos tem esse dom de ser receptáculo de todo esse código ancestral, de ser o ponto de referência principal daquela parte nossa que não nos pertence, por que está irmanada com todas as outras almas, ao longo do tempo, no universo.

Somos seres coletivos portanto. Nossa vida não nos pertence isoladamente, egoisticamente. Mas pertence a um acervo de nossa espécie humana, com tudo aquilo que ela tem de grandeza e pequenez. Apenas as cidades parecem ser permanentes; transcendem o tempo, contemplando os séculos, como testemunhos vivos de tantos anseios, códigos e tempos que se dobraram, nos calendários finitos dos homens.

Olho a cidade na tarde sonolenta de janeiro. O ano 2011, com tudo o que o cercou de sonhos e esperanças, já está sendo vivido por nós como a tarde de janeiro, que é real com seu frescor, com sua paisagem nostálgica.

Abrindo nossas janelas pessoais para o novo ano, nos mostraremos mais coletivos aos olhos e aos sentimentos dos nossos semelhantes e poderemos, mais facilmente, ser iluminados pelos focos de suas luzes positivas, enquanto iluminamos seus espaços de sombra. Amar a cidade é reconhecer-se um ser coletivo e repartir-se com seus semelhantes.

ivansarney@uol.com.br

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