A terceira idade como afirmação de política pública

A população brasileira, segundo os dados do IBGE, está envelhecendo. Já não somos um país de jovens, como éramos há trinta anos. Isso nos impele à adoção de políticas públicas que possam contemplar toda essa população de terceira idade, com ênfase a programas de saúde e seguridade social, estímulos à prática do lazer, a atividades físicas e práticas esportivas, e à reinserção no mercado de trabalho.  

Países mais bem situados, do ponto de vista educacional, social e econômico, dedicam elevado grau de preocupação com as pessoas da terceira idade: aquelas pessoas que possuem mais de 60 anos de vida. Aposentadas ou não, elas estão em todos os lugares mais destacados das cidades em que vivem, desfrutando da vida social, com intensa presença; com o charme, com o brilho de suas próprias vidas, tão cheias de experiências e conhecimentos acumulados, ao longo dos anos.

Andam de bicicleta, desfrutam dos parques, dos museus, dos cinemas, das praias, de tudo aquilo o que reflete a vida: com a exuberância do factual, do transitório, do novo, do sublime. Eles são o ponto de referência principal, a memória viva de todos os costumes, usos, tradições, e de tudo o que diz respeito à história de um povo.

São reconhecidamente cidadãos, com grandes privilégios sociais; com reconhecimento, por suas contribuições e por serem depositários do acervo privilegiado de informações que carregam; por tudo o que conseguiram construir, ao longo de suas vidas, que se cristalizou na matéria de seus cabelos grisalhos, embranquecidos; de seus passos mais lentos e carregados, de seus olhares mais graves e críticos, de tudo o mais que reflete a condição humana, em sua temporalidade natural.

O que transparece aos olhos – vendo-os em todos os lugares da moda, em tudo o que é lazer, cultura, entretenimento, aprendizado – é que eles participam da vida social e econômica, das cidades que em vivem, movendo-se com a desenvoltura dos adolescentes, dando charme e referenciais aos locais em que estão.

Muitas vezes, encontram-se em meio aos mais jovens, prestando serviços filantrópicos. Outras tantas estão trabalhando em um turno, em hotéis, restaurantes, conferindo aos serviços desses hotéis, uma aura de confiança e credibilidade impressionante.

Parecem não ter problemas, mas certamente os têm. Mas participam, dizendo que existem, e estão com as faces muito luminosas de felicidade. Têm direitos respeitados como cidadãos e como idosos, e recebem o respeito de todas as pessoas, como um tributo às suas histórias de vida.

Em nosso país, sabemos que a condição do idoso está longe de ser, pelo menos, razoável, do ponto de vista social e humano. Nossos idosos são discriminados, esquecidos, relegados pelo poder público, a um inexpressivo plano de vida participativa. As aposentadorias, para quem trabalhou ao longo da vida, acabam tendo irrisórios valores, que comprometem a dignidade do ser humano, em seus direitos fundamentais. Além disso, não há espaços para a condição humana da terceira idade. Nem há espaços sociais, nem espaços físicos, nem espaços laborais, recreativos, ocupacionais adequados e consistentes.

Os integrantes da terceira idade, em sua esmagadora maioria, amargam uma vida de discriminação, de ausência de afetividade e reconhecimento, às vezes, dentro da própria família, e isso é uma prática grave, do ponto de vista social.
 
Roseana, em seus dois mandatos anteriores, dedicou expressiva atenção à terceira idade, através de dois programas especiais: o PAI, visando reintegrar o idoso e a sociedade, fazendo com que o aposentado (servidor público do Estado), possa fortalecer sua auto-estima, sua autoconfiança, através de práticas desportivas, de atividades físicas lúdicas, de competições, de encontros; a UNIT (Universidade da Terceira Idade), promovendo atualização e reciclagem pessoal, em parceria com a universidade federal e a estadual, e o SESC.

Essa chamada universidade, que não gradua, é a mais construtiva contribuição que o governo do Estado vem dando à questão do idoso, criando condições para a transmissão de conhecimentos, para o gosto e a tarefa de apreender, dando uma lição intrínseca de que a vida é aprendizado permanente; permitindo uma participação mais crítica, mais tecnicamente correta dos idosos, no processo da organização social.

Temos, no entanto, que avançar muito mais ainda, criando e mantendo espaços públicos que sejam favoráveis ao convívio de todos os cidadãos. Investir em atividades físicas é investir em saúde, indiretamente, motivando a prática de atividades recreativas, preparando corpo e mente para as tarefas do cotidiano.

Os idosos precisam de carinho e reconhecimento de suas pessoas, como cidadãos úteis, capazes de dar lições, de ensinarem sobre o tempo, sobre a vida, sobre o amor, em todas as suas formas. Para isso, um programa de reinserção no mercado de trabalho se faz necessário, com a participação incentivada de empresas, de toda a iniciativa privada, usando estímulos que o poder público possa oferecer, como redução de impostos e outros.

O PAI e a UNIT representam passos de valorização dos idosos como membros de uma sociedade dinâmica, carente de referenciais permanentes e firmes, que nos possam conduzir ao encontro do homem e ao encontro de Deus, vivendo, cada instante de nossa vida, como vida consentida e renovada, que temos que cultivar e desfrutar com responsabilidade. Amar a cidade é criar estímulos para melhor condição de vida dos cidadãos.

ivansarney@uol.com.br 
www.ivansarney.net

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