O futuro está vindo de carro

manhã de solA pacata cidade que habitamos, quando criança e adolescentes, recolheu sua alma na memória dos que tiveram o privilégio de conhecê-la.  Privilégio de caminhar ou dirigir por suas ruas; de frequentar suas festas populares; de estudar em suas escolas públicas; de amar ou ser amado, por suas meninas recatadas; de usar seus bondes elétricos, como meio de locomoção, a trabalho ou lazer; de frequentar suas praças ajardinadas; de assistir filmes no cine Roxy ou no Éden, onde muitos namoros se iniciavam e aconteciam; de fazer serenatas, em suas madrugadas, com poesias e canções apaixonadas.

Essa pacata São Luís, hoje, é apenas um quadro na memória. Um quadro recorrente, muitas vezes, no confronto da cidade que pulsa e se transforma, com incrível velocidade; estendendo seus limites urbanos; multiplicando sua população, seus veículos automotivos; incorporando valores culturais; adensando suas moradias; sufocando seus cursos d’água; destruindo seus manguezais.

A cidade pacata que conhecemos, de 60 mil habitantes, possui hoje, provavelmente, 1 milhão de cidadãos. A mesma cidade pacata, possuidora de uma frota automotiva que não passava de 30 veículos, hoje possui 200 mil. E esse número está crescendo, a cada dia, em ritmo veloz.

As revendedoras das principais marcas nacionais, que se digladiam em campanhas mercadológicas, anunciam marcas superadas de vendas, mensais, que somam, juntas, mais de mil unidades. Essas vendas, crescentes nos últimos anos, estão associadas a uma estabilidade econômica consolidada, com taxas de juros em queda, com aumento do poder aquisitivo da população, com aumento da oferta de emprego, com melhor distribuição de renda; apesar de todas as mazelas que continuam a nos afligir, sob aspecto da habitação, da saúde, da educação, da tributação, da segurança cidadã.

Essa realidade aponta para o crescimento econômico de nossa população, incorporando novos veículos automotivos; ampliando moradias; serviços; oferta de empregos; aumento nas faixas renda familiar. Essa mesma realidade também aponta para um futuro preocupante, que exige um planejamento eficiente e imediato, para que nossa cidade não venha tornar-se inviável, insustentável como cidade, num futuro próximo.

A cidade que nos viu criança e adolescentes começou a expandir-se, a ganhar expressão urbanística moderna, a partir da construção da Ponte José Sarney, que ligou aquela cidade pacata, à ponta de São Francisco. A partir dessa obra grandiosa, em seu sentido social, aconteceu toda a ocupação populacional que formou os bairros novos, que nossa cidade incorporou.

A malha viária que possuímos, hoje, também foi planejada e executada, quase em sua totalidade, no governo do poeta José Sarney. Essa malha viária, que teve em Haroldo Tavares um grande planejador e materializador, quando prefeito, incorporou o Anel Viário: fundamental para escoamento do tráfego, nos dias atuais.

São Luís, no entanto, não possui avenidas largas e modernas, (com exceção da Guajajaras), porque o planejamento que dimensionou essas vias não previu, e seria difícil fazê-lo, a cidade do século XXI que estamos vivendo, com tantas demandas de ocupação de seus espaços territoriais, com tanto adensamento populacional. Além do mais, obras de infra-estrutura, como a abertura ou duplicação de novas avenidas, são obras caras, que implicam em custos muito elevados, com recursos nem sempre disponíveis.

O Secretário Municipal de Transportes Urbanos, Francisco Canindé Barros vem nos alertando para o problema do crescimento vertiginoso da frota automotiva, em nossa cidade. Ele nos assegura que se não forem adotadas medidas saneadoras, em curto prazo, dentro de cinco anos, poderemos ter que adotar o rodízio de veículos, como ocorre, hoje, na cidade de São Paulo.

O secretário Canindé sugere, como solução, a duplicação da Avenida dos Holandeses e da Jerônimo de Albuquerque, que desempenham função especial no sistema de tráfego que possuímos.

Bairros como João Paulo, Monte Castelo e Cohafuma, que possuem pistas estreitas para o fluxo de veículos que recebem, demonstram que o planejamento que as precedeu não conseguiu vislumbrar a cidade em que São Luís se transformou, com a incorporação de novos bairros e as invasões que foram se consolidando, ao longo do tempo.

Muitas vezes, para melhor fluidez do tráfego, basta um pouco de bom senso, sinalização adequada, presença de polícia orientadora, em horas de maior fluxo, como aconteceu com as modificações ocorridas na Avenida Beira-Mar.

O tráfego ali, sem dúvida alguma, ficou muito melhor, permitindo mais rápido fluxo na ponte e em todo aquele micro sistema de vias que se interligam, facilitando a ligação do Centro Histórico com suas adjacências.

Congratulo-me com o secretário Canindé Barros, e com toda a sua equipe técnica, pela forma como estão conduzindo os trabalhos da Semtur, sem grandes obras de arte para melhoria do tráfego, mas com raro bom senso.

Promovendo a sinalização vertical e horizontal, o reordenamento de tráfego; facilitando o ir e vir da população, especialmente, no sistema de transporte coletivo, com os novos terminais de integração e renovação de frota, buscando humanizar o trânsito.

No entanto, precisamos de obras de estruturais, que venham criar novas alternativas de vias e tráfego, para a cidade e seus destinos. Serão obras para as próximas administrações. O futuro está vindo de carro. Amar a cidade é planejar seu futuro sustentável. É preciso amar a cidade.

ivansarney@uol.com.br


 

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