Tercetos

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Noite ainda, quando ela me pedia

Entre dois beijos que me fosse embora,

Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

 

Espera ao menos que desponte a aurora!

Tua alcova é cheirosa como um ninho…

E olha que escuridão há lá por fora!

 

Como queres que eu vá, triste e sozinho,

Casando a treva e o frio de meu peito

Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

 

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!

Não me arrojes à chuva e à tempestade!

Não me exiles do vale do teu leito!

 

Morrerei de aflição e de saudade.

Espera! até que o dia resplandeça,

Aquece-me com a tua mocidade!

 

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça

Repousar, como há pouco repousava.

Espera um pouco! deixa que amanheça

 

E ela abria-me os braços. E eu ficava.

 

 

E, já manhã, quando ela me pedia

Que de seu claro corpo me afastasse,

Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

 

Não pode ser! não vês que o dia nasce?

A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta.

Que diria de ti quem me encontrasse?

 

Ah! nem me digas que isso pouco importa!

Que pensariam, vendo-me, apressado,

Tão cedo assim, saindo a tua porta,

 

Vendo-me exausto, pálido, cansado,

E todo pelo aroma de teu beijo

Escandalosamente perfumado?

 

 

O amor, querida, não exclui o pejo…

Espera! até que o sol desapareça,

Beija-me a boca! mata-me o desejo!

 

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça

Repousar, como há pouco repousava!

Espera um pouco! deixa que anoiteça!”

 

E ela abria-me os braços. E eu ficava.

 

Autor: Olavo Bilac

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