O sempre renovado milagre do Ano Novo

 

Ano NovoEm quatro dias, estaremos vivendo o primeiro dia do ano de 2016. “Ano novo, vida nova”, diz o povo, em sua sabedoria milenar, como se todas as conquistas e frustrações do ano que finda, pudessem ser deixadas no passado, independente do bem e do mal que tenham produzido em nós ou no mundo em que vivemos.

“O ano termina e nasce outra vez”, reflete a canção de John Lennon, quase como um hino de união, de solidariedade, de esperança, de harmonia e paz na humanidade. Nessa reflexão, a pergunta intrigante: “E o que você fez”.

A resposta não precisa ser dada a ninguém. É uma indagação que nos remete a uma avaliação crítica de nós mesmos: o que fomos capazes de fazer para mitigação dos conflitos em que nos vimos envolvidos; o que fomos capazes de fazer para resolver conflitos de outrem; o que fomos capazes de fazer pela utopia de uma paz universal; o que fomos capazes de fazer para contribuir por uma vida mais solidária e inclusiva, onde o amor possa grassar e semear seus frutos.

A transição de um ano que finda, para um ano que nasce, com todas as suas páginas em branco, fomenta sonhos e esperanças em toda a humanidade. Esperanças de sonhos que são coletivos, como a paz universal, unindo os povos de todas as nações. Esperanças de sonhos que são pessoais, de sonhos que estão na alma das pessoas, que podem até estar implícitos nos sonhos coletivos, mas com estes não se confundem ou destes se distinguem, pelos anseios subjetivos de cada pessoa.

Por isso, as festas do Ano Novo integram as tradições de todos os povos, nos cinco continentes do Mundo. Povos que fazem questão de celebrar a chegada do novo ano, com sobejas festas, com fogos de artifícios colorindo e iluminando os céus; com sinos de igrejas e rituais religiosos que ungem a fé, sendo os elos das emoções coletivas.

Por isso, também, as pessoas festejam com mesas fartas, roupas e cores que possam traduzir esperanças, como o amor, a prosperidade, a união, a saúde e a própria paz, aliada a seus conflitos mais íntimos.

As festas do Ano Novo, portanto, representam um rito de passagem milenar, onde todos se congraçam e, de certa forma, se transmudam, lastreados por esperanças, para viver as auroras de novos dias. Dias que, como num passe de pura magia, poderão transformar nossas vidas e a vida de toda a humanidade, pela força dos sonhos que alimentamos.

Que bom que sempre seja assim! É como se o Ano Novo, quase por si só, pudesse operar a magia milagrosa de fazer nascer, de manter viva; de poder materializar todos os nossos sonhos, todas as nossas esperanças. E desse modo, vai se construindo o tempo futuro, vai se escrevendo nossa história pessoal e a história da própria humanidade, na era cristã.

Enlaçados, ainda, pelos sentimentos e pelas emoções que envolveram e unem nossas almas, nas festividades do Natal, estamos predispostos à ternura e ao congraçamento. Todas as celebrações de fé, todas as preces, todos os abraços e todos os presentes, tiveram e terão sempre um caráter litúrgico, ungido pela celebração do nascimento de Jesus. Essas celebrações nos predispõem para os ritos de passagem do Ano Novo.

Cada um celebrando a seu modo, e dentro de suas possibilidades, a chegada do novo ano. O tempo o universo, com todas as suas galáxias e planetas não envelhece. Apenas está em permanente movimento, modificando sua aparência cotidiana. Cada hora, cada minuto, cada segundo do dia, tem a sua forma momentânea e única, e assim vai se estendendo e materializando o tempo.

Nosso tempo, o tempo da humanidade é também mutável e, para cada um de nós que a integramos, é, também, finito. Além de finito, no entanto, é breve. Daí a indagação que deve nos afligir: “E o que você fez”.

Essa indagação nos remete a um compromisso que temos para com o tempo, para com a geração que pertencemos, para como o universo que integramos. O que fizemos para tornar a vida de todos menos árdua, menos dramática e áspera. O que fizemos para assegurar às gerações que nos seguirão uma qualidade de vida igual ou melhor do que encontramos.

Essa indagação deve estar em nossas atitudes, sempre; a cada momento de decisão em que nos encontramos, em situações que possam depor contra, deseducar; orientar ações e atitudes da juventude e das crianças, evitando que sejam nocivas ou indiferentes à qualidade de vida de nossos semelhantes.

Saudemos o Ano Novo cheios de esperanças. Crendo e se dispondo a realizar, a dar o melhor de nós para o amor, a paz, a fraternidade humana, pois somos partículas importantes na ordem universal.

Nota: Publicado no Jornal Pequeno, edição de 28.12.15, na coluna que o autor assina, às segundas-feiras.

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