As eternas faces de Papai Noel

NoelEntre as celebrações do Natal, Papai Noel, que não integra a liturgia católica, existe como uma tradição de caráter laico, incorporada a essas festas, provavelmente em alusão ao episódio bíblico que envolve os presentes que os   Reis Magos foram levar ao menino Jesus, no dia do seu nascimento.

Papai Noel e o próprio Natal, com o passar dos anos, ganharam mais vigor, apesar do processo de secularização do mundo, laicizando os costumes, cada vez mais, e do desenvolvimento da ciência, buscando desvendar a origem do universo, a gênese de todas as formas de vida, as faces de Deus, e as energias cósmicas.   

Independente de Papai Noel estar associado ao calendário do comércio, elemento essencial de sua vitalidade, a imagem daquele velhinho de barbas brancas, de alma generosa, que não altera sua forma de vestir, que presenteia as crianças de bom comportamento, tem uma função importantíssima na pedagogia familiar. Ele auxilia na disciplina, nos estudos, nos ensinamentos, no respeito à autoridade dos pais, na relação com os irmãos, como um personagem de balizamento crítico do aspecto comportamental da criança. Isso o torna necessário e o eterniza.

O diálogo da criança com o velhinho generoso, através de pedido escrito ou verbal, representa um testemunho positivo da relação que se estabelece entre os dois. Um que pede e diz que é merecedor, e o outro que avalia e presenteia, fechando um ciclo que recomeça a cada ano, até uma incerta idade: a idade da descrença.

Cada criança encontra a sua forma de se relacionar com o bom velhinho, incentivada por seus pais, por sua família. E Papai Noel, que tem o dom de ouvir a todas, de estar presente nos lares em que é chamado e querido, incorpora o dom de saber caminhar no escuro, de transitar entre camas e redes, de entrar por janelas, por portas, por chaminés, por quaisquer espaços abertos, para atender aos apelos das crianças que nele crêem e dele esperam.

Na noite de Natal, sua pessoa se transforma em tantos quanto são os que por ele anseiam e necessitam, os que o querem e não o temem; os que nele acreditam e que, um dia, quase por um milagre, acabam vendo suas faces tão próximas das suas, tão perto de seus sonhos, tão ligadas aos seus destinos, tão íntimas de suas dores e prazeres, dos referenciais de suas próprias vidas.

Essas faces, tão subjacentes à vida de cada um de nós, tão necessárias, um dia se transformam em nossas próprias faces. Nós as emprestamos ou emprestaremos para compor o símbolo, as faces do mesmo bom velhinho que nos presenteou, nos alimentou esperanças, nos forneceu diretrizes, nos fomentou devaneios, ilusões, quase como duende, nos transportando para um mundo mágico onde reinava, e ainda reina, a família, a criança, o homem, sob a luz, a energia que emana de Deus, para onde, um dia, tornaremos, cumprida a trajetória de nossa vida terrena.

Essa é a beleza a magia, a eternidade das faces e da pessoa de Papai Noel. O amigo e conselheiro das crianças, o provedor de suas necessidades, o protetor de suas inseguranças, de seus passos na vida, a partir da mais tenra infância, e por todo o curso de suas vidas.

As gerações se sucederão. A família, no processo da dinâmica social que conduz às mudanças, encontrará formas adequadas de convívio com as transformações que os usos e costumes também vão sofrendo, com a incorporação de novos hábitos, que vão compor as novas faces das velhas tradições.

Essas novas faces, com o passar do tempo, serão as tradições que as gerações contemporâneas deixarão para as gerações futuras. A família será sempre o cerne de depuração dos usos e costumes, das tradições, de seus cultivos, de suas transmissões, da manutenção de valores. Isso é feito pelo processo de vivência, de repetição, de envolvimento das crianças, fazendo-as crerem, valorizarem, participarem, contribuírem para que esses valores impregnem suas almas, como parte integrante de suas próprias vidas.

A pessoa de Papai Noel encontra na família, como célula social, a razão mais forte e definitiva de sua eternidade. Uma eternidade que é dinâmica, também, uma vez que a natureza, a dimensão, a situação da família, no tempo e no espaço, vai condicionar a maior ou menor presença, a maior ou menor influência do Papai Noel, a partir do nascimento, até o fim da existência de seus descendentes.

Em verdade, os filhos ficam adolescentes, vão ficando adultos, e Papai Noel vai mudando as faces, e sua relação com as crianças que eles já não aparentam ser. Mas nem por isso deixa de ser, de forma pedagógica, o Papai Noel que fomentou esperanças, que proveu, que instruiu, de disciplinou, que presenteou, que velou pelo sono e pela vida dos que nele creram.

De todas as tradições sociais que chegaram às nossas famílias, nenhuma tem a força, a vitalidade, a utilidade social, de Papai Noel. Ela envolve uma certa grande e intraduzível magia, unindo real a sonho, esperança e desencanto, conformismo e revolta, alegria e tristeza. Esse paradoxo está associado ao homem e ao seu viver.

No Natal, com o clima da fraternidade universal à flor da pele, Papai Noel mais esplende seu vigor, no seio das famílias. Vejamos ou não, sintamos ou não, ele está em cada um de nós, pais e filhos, com faces sempre renovadas, em sua necessária eternidade. Amar a cidade é cultivar tradições. É preciso amar a cidade.

One thought on “As eternas faces de Papai Noel

  • 6 março, 2010 em 0:18
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    quero agradecer do fundo do meu coração o governo roseana ter colocado o coronel franklin no cmd da policia do maranhao agora sim ela acertou. e nós de imperatriz agradecemos

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